O problema é transversal e com uma visão conforme a dimensão da vivência de cada um, particularmente os que são alvo da chaga social – o desemprego. Apesar disso não podemos deixar de olhar para a realidade do aumento do desemprego no concelho e na região com tudo o que isso implica de desespero de inúmeras famílias, que se vêm a braços com inimagináveis dificuldades para quem nunca se viu enredado em tal situação. Não bastava o encerramento de várias empresas, agora temos o problema do “polígono” de Vale de Estrela.
Sendo que parte deste desemprego resulta da asfixia do tecido empresarial composto por pequenos e micro empresários, não deixa de ser verdade que outros, à boleia do ambiente de crise, vão usando dos expedientes permitidos pelo enquadramento legal, “extinguindo” postos de trabalho ocupados por trabalhadores com contratos por tempo indeterminado, substituindo-os por outros trabalhadores em regime de precariedade, algumas vezes com contratos mensais ou diários, outras recorrendo a recibos verdes. Na administração pública proliferam as empresas de prestação de serviço, infelizmente este problema vem de longe. Mais uma vez os mesmos responsáveis PSD/PS e CDS.
A prática já está tão enraizada e oleada que a coisa é feita de um dia para o outro, sem respeito pelos mecanismos formais e prazos legais exigíveis.
É verdade que estas situações não são propriamente características ou exclusivas da nossa região, mas não deixa de ser verdade que quanto mais frágil é o tecido económico, maiores são as dificuldades desses trabalhadores em regressar ao mercado de trabalho, basta analisarmos os dados do desemprego de longa duração no distrito da Guarda.
Neste contexto, o recurso sistemático dos maiores empregadores a empresas de trabalho temporário para colmatar necessidades permanentes, afigura-se como um instrumento decisivo para baixar os salários e em simultâneo manter os trabalhadores debaixo de um clima de medo, que se acentua à medida que o desemprego alastra e o exemplo “do vizinho do lado” está cada vez mais próximo da nossa casa. Há exemplos de luta, destaco os enfermeiros que demonstraram agora numa concentração o descontentamento face à precariedade que os afecta na relação de trabalho.
Os casos prototípicos dos famosos centros de atendimento telefónico instalados na Guarda e Seia, algumas empresas prestadoras de serviços a instituições públicas apenas se destacam pela visibilidade que lhes é dada pelo número de trabalhadores envolvidos.
o agravar do desemprego, da precariedade, da ausência de perspetivas de futuro vem acentuar decisivamente essa tendência para tornar deserta e envelhecida a região onde vivemos, acrescida da emigração dos mais jovens e muitos qualificados.
À boleia, o governo, este e o anterior, vai impondo a diminuição de oferta de serviços públicos, encerrando postos de correio e serviços de saúde e planeando o encerramento de freguesias, de tribunais, mas não se ficam por aqui. A última senha foi a supressão da ligação alternativa à ligação ferroviária entre a Guarda e a Covilhã, a gravidade desta decisão é alienar os milhões de investimento ocorridos, nomeadamente no túnel do Barracão, nas obras de arte e na requalificação de parte do troço entre Belmonte e Caria. Haverá mais pretensões, a RTP também não foge à alienação liberal deste governo com a supressão de delegações, a Guarda parece que está na calha e nenhum deputado pelo nosso círculo eleitoral disse algo. A televisão pública presta um serviço público, mas infelizmente a matriz de um efetivo levantamento da realidade sociológica e tradutora da realidade que nos embrenha no quotidiano resume-se a um programa, por sinal apresentado por uma fozcoense. A tão propalada cidadania é espelhada na inércia dos atores políticos, ou seja, se muitos clamam da ineficácia ou ausência na defesa intransigente dos nossos direitos, estes estão intimamente correlacionados com a nossa ação no dia a dia.
A inquestionável justeza das lutas que se aproximam, principalmente a greve geral de 22 de março, têm na nossa região razões acrescidas para o sucesso, assim se consiga vencer o medo que, contrariamente ao que parece, não protege nem evita que a desgraça nos toque individualmente.
Por: Honorato Robalo
* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP