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O maior fogo de sempre em Seia

Chamas lavraram durante seis dias e semearam a destruição em Alvoco, Cabeça, Teixeira e Vide

Duzentos mil euros é a primeira estimativa dos prejuízos resultantes do grande incêndio que consumiu, durante toda a semana passada, as encostas do concelho de Seia. Um número que apenas diz respeito a Vide e que, por isso, os responsáveis admitem poder vir a aumentar exponencialmente quando estiverem concluídos todos os levantamentos em curso nas freguesias de Teixeira, Alvoco da Serra e Cabeça. Tarefa que está a ser realizada pelos serviços de acção social do município. Entretanto, continua por apurar a área ardida naquele que já é considerado maior fogo de sempre no concelho.

Após as chamas, é tempo de contabilizar os prejuízos. Um trabalho que se revelou difícil nas 29 anexas de Vide, onde os técnicos da autarquia contabilizaram a destruição de 12 habitações, de vários palheiros e sementeiras, para além da perda de quase duas centenas de animais. De acordo com o relatório preliminar, a que “O Interior” teve acesso, foram ainda identificadas três casos de realojamento, danos em diversas viaturas, tubagens de rega, num estaleiro de equipamento de construção civil e noutro de armazenamento de lenha. Ocorrências que poderão originar «graves dificuldades» em termos de subsistência das pessoas e na alimentação dos animais. Nesse sentido, o documento salienta a situação em que ficaram as três famílias desalojadas e os quatro empresários (um lenhador, um resineiro, um empreiteiro e um produtor artesanal) mais afectados. «Constatámos o desespero e o estado de choque das populações perante os acontecimentos, muitas vezes descritos como algo parecido com um “tsunami” em forma de fogo», relatam os técnicos, que sugerem, como medida de precaução, o acompanhamento material e psicológico das pessoas afectadas, maioritariamente idosos.

A Câmara de Seia já anunciou que vai ajudar de imediato na reconstrução de casas e os mais necessitados, mas que irá pedir ajuda ao Governo. É que o incêndio teve uma dimensão nunca antes vista na zona. «Nenhuma povoação esteve tão ameaçada como este ano. Em muitos casos as pessoas viram-se sozinhas», refere Eduardo Brito, presidente da Câmara de Seia, garantindo que o sinistro serviu para que autoridades, instituições e populações retirem as devidas ilações. «Espero que nada volte a ser igual em termos de comportamentos das pessoas e do exercício de autoridade da autarquia e dos serviços tutelares, obrigando a que determinados tipos de regras se cumpram, nomeadamente a limpeza e o afastamento das matas. Mas há vários ensinamentos a retirar e actuações a aperfeiçoar», considera. Entretanto, o autarca acha que o Governo e o município devem propor um plano rápido de reflorestação da zona ardida, cuja extensão poderá chegar aos dez mil hectares. Reacendimentos, muito material combustível, temperaturas elevadas, zonas íngremes e de difícil acesso, para além da ausência de pontos de abastecimento de água, foram os ingredientes para seis dias de fogo intenso em plena área protegida do Parque Natural da Serra da Estrela.

As chamas, que alastraram aos concelhos vizinhos da Covilhã, Arganil e Oliveira do Hospital, só foram dadas como controladas no sábado, tendo lavrado desde o dia 18 em Vide, Teixeira, Alvoco da Serra e Cabeça, as freguesias mais afectadas. O incêndio chegou a ter seis frentes e colocou em perigo povoações, obrigando à evacuação de alguns habitantes, e destruiu habitações. O comandante dos bombeiros da Guarda, Luís Santos, disse mesmo que «foi um milagre não ter havido vítimas, dada a dimensão do incêndio». No combate às chamas estiveram envolvidos perto de meio milhar de bombeiros, militares dos regimento de Engenharia de Tancos e de Artilharia de Costa de Aveiro, para além de uma dezena de meios aéreos. Dada a gravidade da situação a autarquia decretou o Plano Municipal de Emergência, seguido do Plano Distrital accionado pelo Governo Civil da Guarda, que levou à instalação em Loriga de um centro médico pelo INEM.

Luis Martins

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