Embora já me vá habituando às reacções a algumas das minhas crónicas, não consigo evitar, de vez em quando, abrir a boca de espanto com as ditas. Desta vez a reacção que mais me impressionou veio de onde menos esperava e pela forma mais imprevista: um mail pessoal subscrito por nada menos que três responsáveis do hospital da Covilhã. Não vou aqui divulgar os nomes das personagens uma vez que, se fosse sua intenção tornarem públicos os seus protestos relativamente ao conteúdo da minha última crónica, tê-lo-iam feito de forma pública e não privada como aconteceu. Respeitemos isso, pois então.
No entanto, o simples facto de me terem endereçado um (educado) protesto, permitiu-me compreender várias coisas:
A 1.ª é que, afinal, aquela gente existe mesmo e que o silêncio sepulcral acerca dos números e condições de trabalho da maternidade da Covilhã não passa de uma estratégia concertada com a de denunciar a falta de condições de trabalho noutras, com o fim de levar tudo para lá.
A 2.ª consistiu no facto de ter ficado a compreender melhor essa mesma estratégia, baseada na falácia, na ambição e no mais completo desinteresse por aquilo que realmente interessa às pessoas.
Não vale muito a pena desfiar mais uma vez aqui todos os argumentos a favor da manutenção das maternidades das capitais dos distritos da Guarda e Castelo Branco. E não vale a pena pelo simples facto de que a intenção de encerrar estas recheando a da Covilhã de utentes (que lhes faltam) e de profissionais (que também lhes faltam), não passa de uma decisão politiqueira, cozinhada por um clube de gente mais interessada em alimentar reformas douradas e carreiras brilhantes do que propriamente servir as pessoas da melhor forma possível. Apesar disso, seria impossível para mim resistir à tentação de colocar pontos em alguns “i’s” uma vez que, podendo até estar a preparar-me para perder uma batalha impossível de vencer, figura de urso é que me recuso a fazer.
Ora aqui vai: de facto a Covilhã possui um número de ginecologistas e obstetras semelhante ao da Guarda; no entanto, o número daqueles que asseguram o serviço de urgência é muito menor na Covilhã o que só permite que haja 2 médicos em presença física até às 18 horas. Depois dessa hora é só fazer figas e esperar que não apareça nenhuma emergência.
Quanto aos pediatras, calcanhar de Aquiles da Guarda até há algum tempo, o número de profissionais é semelhante com a “pequena” diferença de que na Guarda há sempre um disponível para dar apoio à maternidade; na Covilhã é só fazer figas para que, sempre que nasce uma criança, o pediatra não esteja ocupado com outra coisa qualquer.
Finalmente os anestesistas. Enquanto que por cá o investimento feito na anestesia/analgesia obstétrica já completou 8 anos de vida, a Covilhã, pese embora toda a qualidade e brio dos seus profissionais, continua a funcionar com um médico em presença física (que vai dando conta de todos os recados) e outro em prevenção que só é chamado em último recurso. Conclusão: analgesia do parto só para amigos. Ou amigas.
Estarão estas informações todas erradas?
Uma última palavrinha para os socialistas da Guarda: como é diferente o discurso daquele usado há um ano em requerimento ao ministro da saúde do PPD! Tenho cá uma cópia desse requerimento feito por Fernando Cabral. Será o tema da próxima crónica se até lá isto não tiver dado uma volta de 180 graus.
PS: Mea culpa. De facto a unidade de neonatalogia do hospital de Pêro da Covilhã existe mesmo, ao contrário do que era aqui afirmado por mim há 15 dias. Mas… muda alguma coisa?
Por: António Matos Godinho