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O jazz de “A” a MOAZZ

Ciclo no Fundão iniciou-se ensinando o público a ouvir este género musical

Primeiro desmistificaram-se alguns equívocos: «O jazz não é só para ricos», nem improvisação é «desprovida de regras». Depois, explicaram-se as diferenças entre ritmos e compassos e revelaram-se os distintos tipos de temas e harmonias. Foi assim, de forma pedagógica, que arrancou o MOAZZ – Ciclo de Jazz do Fundão. Sábado à noite, dezenas de pessoas foram ao “lounge” da Moagem – Cidade do Engenho e das Artes ouvir o Quarteto de Jazz da Academia Municipal das Artes da Nazaré.

Na primeira sessão, o maestro Adelino Mota assumiu a “batuta” com o intuito de desfazer alguns preconceitos e levar a plateia a “Aprender a ouvir jazz”: «Não é uma coisa do outro mundo. É para toda a gente», garantiu. Ainda assim, «é importante que as pessoas sintam e percebam o que estão a ouvir». No que diz respeito ao cariz mais teórico deste género musical, Adelino Mota falou sobre as várias estruturas musicais e a miscigenação com outros géneros. Estruturas que variam também em função das diferenças entre tempo e compasso. «O tempo está associado ao bater o pé, enquanto o compasso é o conjunto de tempos que permite dança», exemplificou. Por falar em dança, o “swing” – aqui noutro contexto – não poderia ser esquecido. Na versão simplista é «o ritmo da bateria». Mas o maestro falou de uma acepção mais personalizada do termo, relativa à «atitude» de cada intérprete que, com o seu instrumento, estabelece a distinção entre o jazz e a pop, por exemplo.

Entretanto, derrubou-se mais um equívoco relativamente a um dos mais importantes aspectos do jazz. É que improvisação não rima com arbitrariedade, tem antes de estar «bem preparada e exige instrumentistas tecnicamente evoluídos». A um revisitado “Yesterday”, dos Bealtes, juntaram-se vários clássicos, entre os quais “A Night in Tunísia”, de Dizzy Gillespie; “Take Five”, de Paul Desmond, ou “Autumn Leaves”, que Nat King Cole celebrizou no cinema. «O jazz não é uma música elitista. É para toda a gente poder ouvir e, na sua génese, era feita do povo para o povo. Contudo, não é para toda a gente tocar, porque é preciso um grande conhecimento técnico do instrumento, alguma evolução e trabalho individual», refere Adelino Mota. Trabalho como o que João Capinha (saxofone), Márcio Silvério (guitarra), Tiago Lopes (baixo) e Vítor Copa (bateria) foram mostrando pela noite dentro.

Em certa medida, o maestro comparou o jazz à música clássica. «A música dos clássicos era para o povo. Mozart teve muitos problemas com as cortes porque fazia música para o povo e não para os intelectuais. Qualquer obra do Mozart é assobiável. O jazz também é assim», sublinha. O especialista espera agora que os frutos brotem nas audições de cada um dos assistentes desta sessão. «Estas pessoas já não vão ouvir jazz da mesma maneira», acredita. O MOAZZ prossegue no primeiro sábado de cada mês, durante este ano. O Quarteto Vasco Agostinho é próximo convidado e actua a 7 de Fevereiro no mesmo espaço. Em Março, será “El Fad” a dar continuidade ao ciclo que, até Abril, terá patentes duas exposições na Moagem.

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