As críticas ao modelo de financiamento dos politécnicos e as ameaças ao futuro deste sistema de ensino superior marcaram o discurso de Constantino Rei na abertura solene do ano académico no Instituto Politécnico da Guarda.
Na passada quarta-feira, o presidente do IPG começou por dizer que se a reforma do ensino superior, que deveria passar «pela racionalização da oferta formativa e das instituições», não aconteceu até agora, já não acontecerá «nos anos mais próximos». Constantino Rei destacou o «significativo acréscimo» de novos alunos este ano, com o IPG a ficar, em termos de taxa de ocupação de vagas, na liderança dos Politécnicos do interior, mas logo acrescentou que este resultado «esperançador» não se irá repetir por muitos mais anos e que vem aí um «futuro mais sombrio». «Está mais que provado que havendo candidatos em número adequado com a oferta, todos podemos sobreviver, mas prevendo-se uma diminuição significativa de jovens a ingressar no ensino superior, a manutenção do nível de oferta atual implicará um forte golpe na sustentabilidade de algumas instituições, a começar pelas situadas em regiões como a nossa», alertou o presidente do Politécnico guardense. Nesse sentido, o responsável admitiu que o IPG tem «sobrevivido» nos últimos anos, «mas emagrecemos, como estou convicto continuaremos a emagrecer no futuro».
O financiamento foi outra pedra de toque do discurso do professor de Economia, cujo mandado na presidência do IPG termina em 2018 e que não deverá recandidatar-se após sete anos à frente da instituição. «Caímos no logro de nos fazermos substituir ao Estado no financiamento e resolução dos problemas financeiros daqueles que estão mais aflitos», afirmou, aludindo ao recurso ao fundo de reserva financeira criado pelos Politécnicos com parte das suas dotações para ajudar os institutos que, como o IPG, têm défices financeiros. Na sua opinião, esse fundo «não pode, ou não deve, transformar-se num instrumento financeiro para resolver os problemas cuja solução compete ao Estado», pelo que defendeu que «não deve continuar a ser usado no futuro, ou pelo menos devemos repensá-lo encontrando mecanismos de responsabilização mútua».
E Constantino Rei considerou que, em vez de «continuarmos a ser solidários uns com os outros», é hora de «exigir que o Governo assuma a responsabilidade de resolver os problemas que, na sua maioria, foram criados pelo atual e pelos anteriores Executivos». A sua sugestão para sanar o desequilíbrio financeiro estrutural dos Politécnicos passa pela celebração de contratos-programa que, «no essencial, responsabilizem instituições e Governo». Na sua intervenção, o responsável destacou ainda a liderança do IPG na candidatura da Serra da Estrela a Geopark da UNESCO e o seu envolvimento na criação de um centro de excelência para a indústria de componentes e cablagens para automóveis que envolve as empresas Coficab, Dura, ACI e Sodecia, todas sediadas na Guarda, bem como a autarquia. «Se no imediato estamos empenhados em apresentar à DGES a proposta de criação de um curso de Técnico Superior Profissional, o sucesso desta iniciativa poderá e deverá catapultar o IPG para se afirmar como um polo formativo de excelência nesta área tão carenciada para a região e para o país. E, porque não, culminar com a reabertura do curso de Engenharia Mecânica», acrescentou Constantino Rei.
Luis Martins
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