Em tempos, antes de O INTERIOR, ser do interior era algo de que não nos sentíamos particularmente orgulhosos. O interior não era o centro, o coração, o âmago, o fundamental; era o isolado, o periférico, a terra longe do mar, a terra longe do horizonte.
Nesses tempos, não tão longínquos, nem era politicamente correto dizer que alguém era do interior. Começar nesses tempos um jornal regional chamado O INTERIOR não seria certamente um golpe de marketing. Seria como começar hoje um jornal chamado “A Periferia” que reportasse a vida na Grécia, Portugal e Espanha.
Começar O INTERIOR foi enfrentar de frente o que somos, com consciência crua e verdadeira das fragilidades e forças do interior, assim, sem disfarces. E ir à busca do que temos e somos, e do que não temos nem conseguimos ser. Das nossas vitórias, e das nossas corrupções. Dos nossos orgulhos e dos nossos crimes. O interior exposto, o interior assumido, o interior direto, com orgulho da história e das pessoas, a olhar para o futuro e para o país. E a olhar para o futuro e para o país das montanhas mais altas, de onde se tem perspetiva, de onde se olha mais longe.
O interior ainda é o isolado, o periférico, a terra longe do mar. Mas sentimos menos pejo em dizer que somos do interior. Que gostamos do interior. E concordemos ou não com os conteúdos semanais, O INTERIOR é corajoso até no nome.
Tchim, Tchim.
Rui Costa*
* Neurocientista, investigador da Fundação Champalimaud e antigo colaborador de O INTERIOR