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Tem tudo para refletir de uma nova forma, esta imensa e potencialmente produtiva faixa do território português, que paradoxalmente é a que se encontra geograficamente mais próxima do resto da Europa enquanto nos indicadores de desenvolvimento regional e de qualidade de vida, é a que se encontra mais distante para baixo, das médias europeias.
Está provado que falhou a forma como, mesmo ao longo da nossa História democrática, se implorou aos centros de decisão e de poder a ajuda ao desenvolvimento da região e à melhoria das condições de vidas das populações.
A esta imensa e potencialmente produtiva faixa do território português resta-lhe ainda muito, para que possa exigir em vez de pedir humildemente, e não é certamente pelo facto de ter menos eleitores que perde força o poder reivindicativo de quem tem que lembrar aos centros de decisão e de poder, que melhorar as condições de vida e de fixação das populações, e mesmo de atração de novos residentes, é a melhor maneira de melhorar a conturbada qualidade de vida de quem vive nos grandes centros do mais desenvolvido litoral.
Este interior de Portugal, que tantos migrantes e emigrantes deu já ao litoral e ao mundo, e que por isso se tornou cada vez mais um território de baixa densidade, continua a ser o que dá de beber com água de alta qualidade à saturada Lisboa, continua a produzir para serem apreciados também lá ou em qualquer parte do mundo, os Queijos da Serra ou da Beira Baixa ou de Nisa, os enchidos e outros produtos de charcutaria, mel, doces e compotas, licores e patês que em alguns casos até já têm lugar nas prateleiras Gourmet. Além dos vinhos, das amêndoas e do azeite, dos cogumelos e de toda uma variedade de produtos onde o biológico se junta agora com a certificação do modo de produção, ao que era já um modo tradicional facilitado pelo saber ancestral e por um terroir que nunca poderá ser deslocalizado.
É por isso que criar condições para manter gente que não vá fazer aumentar as filas nos grandes centros, e para não deixar desertificar um território que depois ficaria mais caro ao país é um direito do interior e um benefício para todos os portugueses, particularmente os que vivem no litoral mais saturado.
As políticas do país terão que passar a refletir esta realidade, sem qualquer estigma de interioridade.
Por: Jorge Esteves, Jornalista da Rádio e Televisão de Portugal na Guarda
