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O interior, a nova centralidade

Crónica Política

Ao longo dos anos temos assistido a um constante esvaziamento do interior do país. Começaram por nos retirar um conjunto de serviços que culminou com o êxodo, em larga escala, de grande parte da população mais jovem.

Se quiséssemos perceber quais os principais culpados para este estado de coisas não nos chegaria este jornal inteiro, mas nós, enquanto cidadãos que querem continuar a viver no interior, não podemos contribuir com o nosso queixume e lamentações para inferiorizar, ainda mais, o interior. Temos de ser nós a valorizar o que é nosso e a realidade é que não nos faltam razões para mostrar, a todos, toda a potencialidade desta região.

O interior de Portugal constitui uma oportunidade de ligação com o resto da península e goza de uma posição privilegiada no contexto ibérico que não tem sido devidamente valorizada. Nas regiões espanholas junto à fronteira vivem 6 milhões de pessoas que passam a ser 14 milhões se acrescentarmos a Andaluzia, mas, se a isto, somarmos o facto das nossas capitais de distrito fronteiriços distarem apenas entre 60 e 160 quilómetros das capitais das províncias vizinhas, chegaremos à conclusão que, afinal, o interior está no centro do mercado ibérico, um mercado de oportunidades com cerca de 60 milhões de consumidores.

Mas não se trata apenas de fomentar o comércio transfronteiriço, pois para vender é preciso produzir. Nas últimas décadas tem-se feito um forte investimento na valorização e qualificação dos espaços de consumo, nomeadamente em zonas e infraestruturas turísticas e áreas de lazer resultando num inegável aumento da atratividade dos municípios. Foram investimentos necessários e úteis que fizeram crescer o sector do turismo mas nesta altura torna-se necessário redirecionar o investimento para o desenvolvimento do sector produtivo.

Importa, assim, apostar, de uma forma estratégica, na qualificação dos espaços de produção, seja ela do sector primário ou secundário, pois só assim conseguiremos criar emprego em escala e, consequentemente, fixar populações.

Mas se o sector produtivo ainda precisa de ser olhado e pensado de forma a assumir-se como um verdadeiro motor de desenvolvimento do interior, a verdade é que os novos empreendedores não devem ficar limitados por pseudo fronteiras que, hoje em dia, são cada vez mais inexistentes. Temos de ser capazes de criar condições, como espaços partilhados ou incubadoras de projetos, e partilhar estas ideias em rede, favorecendo a troca de informação e a cooperação e mobilidade de ideias e pessoas entre diferentes regiões.

O investimento no sector produtivo, o apoio aos novos empreendedores ou a consolidação dos sectores que já desenvolvem atividade de uma forma firme só fazem sentido se formos capazes de comunicar e de estar presentes no tal mercado ibérico com canais de distribuição para os produtos, com campanhas de comunicação fortes e que nos permitam ganhar espaço na mente dos consumidores ibéricos.

O interior tornar-se o centro o mercado ibérico também depende de nós!

Por: João Pedro Borges

* Presidente da concelhia da Guarda do PS

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