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O Hospital da bonecada

Durante três dias, mais de 500 crianças passaram pelo “Hospital do Faz de Conta”, promovido pelo Núcleo de Estudantes de Medicina da UBI

Apreensivo e um tanto desconfiado, o pequeno Duarte, de quatro anos, lá sossegou. Sentado frente-a-frente com o médico de serviço, acedeu em pôr de lado o “medo da bata branca” e lá foi explicando o motivo da consulta: o seu “Action Man” está doente. O herói e companheiro de brincadeiras do Duarte tem tido «muitas dores de cabeça», garante, preocupado.

Para fazer um diagnóstico rigoroso foi necessário medir a tensão, o batimento cardíaco, espreitar «para dentro dos ouvidos» e observar a garganta do herói, fazendo uso da tradicional espátula. No final, e para sorte do pobre boneco, o receituário nem foi dos mais penosos: “Xarope de comprimidos” três vezes ao dia, descanso e – imprescindível – dois beijinhos diários. Satisfeitos, o Duarte e o seu “Action Man” regressaram a casa mais descansados e, seguramente, mais descontraídos em relação a “estas coisas” dos hospitais. Afinal, é para isso que serve o “Hospital do Faz de Conta”, promovido pelo Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade da Beira Interior (MedUBI). De quarta a sexta-feira, a iniciativa atraiu 535 crianças de vários jardins-de-infância e do primeiro ano de algumas escolas do primeiro ciclo da Covilhã, convidados a descobrir um hospital onde os medos ficaram à porta. Ali tudo foi a brincar, num “percurso-aventura” com a duração aproximada de uma hora.

Primeiro, a indispensável consulta – e neste hospital não há tempos de espera – para se fazer um diagnóstico das maleitas de cada boneco. Depois as prescrições, que podem ser as mais diversas: desde miminhos a beijinhos, passando pelo descanso, o “xarope de comprimidos”, uma injecção ou uma vacina. Pode dar-se ainda o caso de haver necessidade de receitar tratamentos como pensos, ligaduras, gesso ou uma radiografia. Houve, aliás, uma sala específica para explicar a estes visitantes de palmo e meio o que é isso do raio-x, uma ala de internamento (com todas as camas permanentemente ocupadas), várias salas de tratamentos e mesmo uma farmácia para “aviar” as receitas. No bloco operatório, um dos “bonecos-pacientes” com dores de barriga foi “salvo” por uma equipa de pequenos doutores. Os alunos de Medicina, que prepararam a iniciativa desde Junho de 2007, criaram ainda quatro espaços específicos para sensibilizar as crianças para questões como a higiene oral, os cuidados a ter com o sol, a alimentação ou a importância da vacinação.

E quanto às queixas mais frequentes, segundo Teresa Rosa, uma das responsáveis por este hospital onde tudo é fantasia, foram «coisas bem simples de resolver, como fracturas de braços, pernas, algumas cabeças partidas e muitas dores de barriga». Na organização estiveram 40 futuros médicos, para «desmistificar a ideia negativa que as crianças têm dos hospitais e, em simultâneo, fazer com que os mais novos transfiram para os bonecos os medos que sentem», refere. É que, por norma, «o “medo da bata branca”, dos instrumentos e das técnicas médicas é quase inevitável junto dos mais novos», considera a estudante. Mas, a avaliar pelos sorrisos no final da visita, estes receios já pertencem ao passado.

Rosa Ramos

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