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O Homem da Bola de Vidro Cortada ao Meio

Conto…

Neste mundo não havia paredes de vidro para o proteger do frio. Fazia frio e vento. Vento ventando nas árvores velhas da avenida, um vento de vozes que ia e vinha, tanto vento que parecia que punha V’s em tudo. O homem tentou sorrir um sorriso congelado como fazia dentro da bola de vidro cortada ao meio, mas não funcionou. Continuava cheio de frio e com um bocadinho grande de tristeza. Até que uma mão enorme apanhou-o.

Era enorme e não gigante-gigante porque era a mão de um miúdo. Primeiro o homem quase morreu de medo no escuro do bolso do miúdo, mas depois a mão enorme tirou-o lá de dentro e os dois tornaram-se amigos.

O homem brincava com o miúdo e o miúdo ensinou-o a fazer coisas diferentes de ficar parado a sorrir sorrisos congelados. Ensinou-o, por exemplo, a dormir. (Há lá coisa melhor do que um bom sono?) E, a partir daí, o homem pequenino aprendeu a sonhar. Fechava os olhos e via neve: neve quente caindo e caindo e caindo até sempre.

Jacinto Lucas Pires

Ilustrações de:Danuta Wojciechowska Rede Expresso

Sobre o autor

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