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O futuro do euro joga-se hoje

A menos de duas semanas de expirar o programa de assistência financeira a Atenas, ainda não há acordo entre a Grécia e os credores sobre as medidas a executar pelo país que permitam desbloquear os 7,2 mil milhões de euros da última tranche do programa de resgate.

Sem acordo, o país – com os cofres públicos praticamente sem dinheiro – fica à beira do incumprimento e mesmo de uma saída da zona euro (o famoso “Grexit”). A Grécia tem de pagar 1,6 mil milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI) até final de junho. Em julho e agosto, tem ainda de amortizar 6.700 milhões de euros de dívida ao Banco Central Europeu (BCE).

Apesar do cenário de “default” parecer estar cada vez mais perto e da Grécia e dos parceiros europeus e credores (representados por Comissão Europeia, FMI e BCE) estarem cada vez mais crispados, deverá assistir-se por estes dias a um último esforço, com negociações técnicas paradas à espera dos desenvolvimentos políticos.

Fala-se mesmo de uma cimeira extraordinária de líderes europeus – a 19 (zona euro) ou a 28 (o conjunto da UE) – para desbloquear um acordo, se no Eurogrupo de hoje não houver avanços. Desde fevereiro – quando o programa de resgate foi estendido até junho – que se arrasta o processo de negociações entre Atenas e os credores sobre as reformas a adotar pelo país.

Pelo meio, houve mudanças na equipa de negociadores, mensagens contraditórias, confrontos, fugas de informação, muita crispação e, sobretudo, poucos avanços. As reformas que mais afastam Atenas e credores têm a ver com cortes nas pensões, sobretudo nos complementos das reformas mais baixas, e subidas no IVA (imposto sobre o consumo, especialmente nos medicamentos e eletricidade).

No excedente orçamental primário (diferença entre as receitas e despesas das contas públicas, excluindo os juros) há um entendimento no valor a alcançar, mas é preciso concordar nas medidas para lá chegar. O Governo grego quer ainda uma estratégia para lidar com a elevada dívida do país, o que poderia ser feito através de uma nova reestruturação da dívida, que na Europa parece ser tema “tabu”.

Além do que um eventual incumprimento da Grécia significa para o país, há ainda a questão do contágio a outros Estados-membros da zona euro. Apesar de vários líderes europeus tentarem desvalorizar este risco, o presidente do BCE, Mario Draghi, admitiu na segunda-feira que é impossível «especular» sobre essas consequências a médio e longo prazo, já que se entraria «em águas desconhecidas».

O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, garantiu por seu lado que Portugal está «em condições para enfrentar, até final do ano, qualquer volatilidade nos mercados externos causada pela situação da Grécia», afirmando que «se alguma coisa de mais grave acontecer com a Grécia, Portugal não cai a seguir».

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