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O estado depressivo da Guarda

Editorial

A notícia de lay-off em mais uma empresa da Guarda confirma o cataclismo em que a região se encontra. Muito para além da crise nacional (e internacional), as dificuldades das empresas do interior são sentidas de forma mais severa e implacável – por cá, quando uma empresa entra em rutura financeira ou tem problemas de tesouraria dificilmente recebe algum tipo de solidariedade, da administração pública ou dos cidadãos. Quando uma empresa ou um empresário está mal, na “província”, ouvem-se os piores comentários e nenhuma ajuda.

Ora, quando as empresas estão com dificuldades deveria haver um cordão de solidariedade, e ainda mais forte em tempos de crise e em que as taxas de desemprego atingem valores históricos. E o apoio deveria ser ainda mais efetivo no interior fustigado por todo o tipo de contrariedades e onde os empresários são constantemente postos à prova. Por isso, numa cidade como a Guarda, que após o fecho da Delphi tem sucessivamente visto desaparecer empresas e postos de trabalho, o desespero de quem trabalha, dos empresários e dos trabalhadores, começa a ser generalizado. As empresas, as poucas que vão sobrevivendo em estado letárgico, descapitalizadas, resistem graças ao empenho dos seus responsáveis e trabalhadores – até quando? Se há cidade que prematuramente aprendeu a conviver com a crise foi a Guarda, os trabalhadores despedidos da Delphi deram o mote ao partirem para outras paragens à procura de trabalho e os que ficaram pressentiram que o futuro junto da família tinha os dias contados (salvo os funcionários públicos que ainda têm o emprego garantido). Mas o pior é que, para além das dificuldades financeiras, fica a sensação de que já não restam empresas na Guarda. E, de facto, depois do fecho do maior empregador da região (a Delphi, há 10 anos chegou a ter 3.000 trabalhadores), encerraram tantas outras, da Egitécnica à ARL, passando pela Vidrofuso ou o Hotel de Turismo, entre muitas outras de menor dimensão, que libertaram centenas de trabalhadores, muitos no desemprego, e que deixaram de contribuir para a economia que na cidade está cada vez mais asfixiada. O mesmo se passa, de forma igualmente perturbadora e depressiva, por toda a região.

Por isso, quando nos chegam notícias de pessoas que partem, pessoas que emigram (não pela sugestão de Passos Coelho, mas por opção natural quando não se vê uma luz ao fundo do túnel. Sempre encontrámos no partir o caminho que por cá não conseguimos trilhar. É o fado português… que não tendo nada de grave desagua numa nova diáspora depressiva, como se percebeu na reportagem que a TVI exibiu na passada segunda-feira sobre os milhares de emigrantes que estão a chegar à Suíça e não conseguem emprego, alguns dos quais acabam a dormir na rua www.tvi.iol.pt/videos/programa/3008/128753).

É neste cenário que encontramos a “lay-off” da Gonçalves & Gonçalves e também da Termolan (empresa tão “disputada” quando em 2008 se instalou em Vilar Formoso e que com o “rebentar” da “bolha” do imobiliário em Espanha ficou sem mercado). São empresas que ainda têm margem de recuperação. São 300 trabalhadores na Guarda e 60 em Vilar Formoso que ficam na expetativa. Depois da austeridade, tem de chegar o otimismo e a recuperação económica. Não há outro caminho.

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
Teodoro farias tafcoa@sapo.pt
Comentário:
A situação é, de facto, como o autor descreve muito brilhantemente. As empresas do interior beneficiaram até 31/12/2011 de IRC com taxa reduzida de 15%. A partir de 1/1/2012, o Orçamento Geral do Estado agravou este imposto de 15 para 25%. Na maior parte dos concelhos o imposto de derrama municipaltambém foi agravado. O IVA passou para 23%, dificultando ainda mais o comércio com os nossos vizinhos espanhóis! O interior ficou, assim, sem qualquer incentivo para as empresas aqui se fixarem. Que futuro, eis a questão?
 
rui pereiraruim2@gmail.com
Comentário:
Parabéns! Excelente leitura do estado depressivo em que vivemos. Só falta o agradecimento a Joaquim Valente pelo contriuto para a morte da cidade.
 

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