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“O Espírito da Descoberta” por terras de Bandarra

Cerca de 40 artistas, cientistas e filósofos participaram no primeiro Encontro da Fundação para as Artes, Ciências e Tecnologias

Só se ouvia o vento a soprar e, alternadamente, o carvão a riscar o tecido de algodão branco estendido no interior das muralhas do castelo de Trancoso. Os telemóveis estavam desligados. Vestida de preto, a polaca Monika Weiss estava deitada no chão e desenhava a sua própria silhueta com carvão e pigmentos secos. O público foi convidado a entrar e viver o espaço do desenho com a artista, deixando sobre o tecido uma marca da sua presença. Esta foi uma das várias performances artísticas do 1º Evento da Fundação para as Artes, Ciências e Tecnologias. “O Espírito da Descoberta” decorreu durante quatro dias e terminou no domingo.

Ao todo participaram cerca de 40 personalidades vindas dos Estados Unidos, Hungria, Polónia, Suíça e Portugal, entre outros. No sábado à tarde, pelas ruas do centro histórico só se falava em inglês. Todos os caminhos foram dar ao castelo onde Monika Weiss apresentou a performance “Anamnesis”. Este desenho ao ar livre, com as dimensões de uma paisagem, operou com os efeitos do ambiente natural. Durante várias horas a artista e alguns colaboradores preencheram o tecido branco com traços pretos. «A tela poderá ficar em Trancoso», diz Júlio Sarmento, autarca local, garantindo que outra das instalações que vai ficar «seguramente» é o projecto do suíço Francesco Mariotti, localizado no parque municipal. O artista utilizou garrafas de água vazias, de várias cores, que vão funcionar posteriormente com a iluminação pública. A outra exposição chama-se “Time and Material”, de Dove Bradshaw, e vai estar patente no Convento dos Frades até 30 de Junho. Através deste encontro de artistas, cientistas e filósofos, os promotores pretenderam gerar uma visão mais ampla e profunda de algumas das mais fascinantes descobertas da ciência e propostas de arte.

Mas há outra novidade para Trancoso. Trata-se da criação do Museu do Design do Tempo, realizado em parceria entre a Câmara e a Fundação para as Artes, Ciências e Tecnologias – Observatório. O novo espaço museológico albergará uma colecção de relógios dos séculos XVII aos dias de hoje, e será um local para pequenos concertos musicais, conferências, audições, exposições paralelas, tendo sempre o tempo como elemento fundamental de reflexão. Está previsto que a sua construção esteja concluída no final de 2007. O projecto tem uma arquitectura de vanguarda «que faz lembrar muito os trabalhos de Frank Gehry», descreve Júlio Sarmento, apontando as «linhas redondas, à volta de uma espiral que representa o tempo». O novo equipamento deverá ocupar uma área de 1.500 metros quadrados, mas o local «ainda não está definido», refere o autarca. O edifício vai ter dois pisos, sendo que um deles será transparente e com um jardim interior que «albergará uma colecção audio», explica o presidente. Já a colecção dos relógios, com mais de 200 exemplares, pretende mostrar «como as pessoas têm mudado a sua forma de abordar o tempo ao longo dos séculos», acrescenta.

Trata-se de um espólio que o inventor e industrial português Dimas de Melo Pimenta começou a reunir na década de 50. O museu vai ter o nome do filósofo René Berger, presidente da Associação Mundial de Críticos de Arte. De resto, a obra está orçada em cerca de 1,5 milhões de euros. Mas há mais. A partir de agora este Encontro Internacional de Arte e Ciência vai realizar-se anualmente em Trancoso. E para Outubro, a autarquia e a Fundação contam acolher a primeira reunião anual do Tribunal Europeu do Ambiente. Paralelamente, «pretendemos fomentar a realização de outros encontros, porque o objectivo é trazer a Trancoso mais personalidades», promete Júlio Sarmento.

Patrícia Correia

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