O encerramento da Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes (UCIP) do hospital de Sousa Martins é mais uma machadada desferida sobre esta pobre unidade de saúde e sobre esta terra. No entanto, estaríamos a ser irrealistas se não reconhecêssemos que o desfecho era mais do que esperado.
Desde que abriu, já lá vão uns anitos, nunca o Conselho de Administração considerou ser prioritário o investimento em termos humanos na UCIP. Como não considerou prioritário o investimento na Maternidade, na Pediatria, no combate ao envelhecimento do quadro médico ou na melhoria das instalações (veja-se o caso do bloco operatório com uma sala de operações encerrada há mais de um ano por causa das infiltrações). Resumindo, poderá concluir-se que as apostas e as prioridades do actual conselho de administração foram noutros sentidos mais relacionados com exposições fotográficas (cultura), unidades móveis de oftalmologia coordenadas por não-médicos (saúde pública), procissões com a imagem de Nossa Senhora (religião e moral) e cortes de relações entre os diversos elementos que o compõem (política).
Tenho a consciência de que talvez esteja a ser mauzinho na crítica mas o facto é que nunca, desde o dia da tomada de posse destas pessoas, pareceu haver um plano, um rumo, um conjunto coerente de ideias para o hospital de Sousa Martins.
Há coisa de uma semana o senhor director clínico apareceu mais uma vez na comunicação social (a 30ª em 5 dias?) anunciando que acabava de pôr o seu lugar à disposição (nada mau para quem está há mais de um ano à espera de ser reconduzido no lugar e quase implorou essa recondução uma semana antes das eleições). Do outro lado, os chamados “executivos” do conselho de administração é que não parecem dar sinal de querer arredar pé, pretendendo, isso sim, dar continuidade ao “trabalho” desenvolvido até agora.
A realidade, no entanto, é dura e difícil (como a barba) e o futuro próximo não aparece risonho ou aplanado. Há um conjunto de problemas muito complicado a começar por alguns dos que estão enunciados no cimo deste texto a que se pode acrescentar o maior e o mais complicado de todos: a remodelação do hospital assumida como promessa eleitoral pelo PS e com a qual a actual directora não concorda (a não ser que mude de partido e passe a concordar). Para tornar as coisas um pouco mais difíceis, começo a suspeitar de que não está a ser muito fácil a escolha dos novos responsáveis para o hospital; há nomes a mais para o meu gosto e, quando assim é, acabamos a pensar se não haverá é nomes a menos.
Enquanto esperamos, talvez não seja má ideia evitar adoecer “intensivamente” cá por estes sítios.
Por: António Matos Godinho