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O Elefante na Sala

Primeiro, uma piada: Portugal estava à beira do abismo mas deu dois Passos à frente, um em 2011 e outro em 2015.

De seguida, o elefante na sala. Toda a gente parece ter esquecido como, em 2011, foram ganhas as eleições pelo PSD. Passos Coelho forçou a queda do governo com um discurso anti-austeridade, recusando o aumento de impostos do PEC IV, fez uma campanha eleitoral inteira a prometer baixar os impostos (ao estilo do prometido e incumprido choque fiscal do Durão Barroso) e depois, quando ganhou as eleições, fez o contrário do prometido. Isto é, ganhou as eleições com uma aldrabice. Não sei o que acham disto, mas pelos vistos a dois milhões de portugueses não os incomoda o facto de terem o direito de chamar mentiroso ao primeiro-ministro do seu país.

Depois ainda, o mérito. Podíamos perdoar a aldrabice se houvesse expiação, por exemplo na forma de uma governação excelente, de mérito tão elevado que reduzisse aquele pecado original à dimensão de um pecadilho sem importância. Não houve expiação. O pouco que poderemos atribuir de bom ao governo cessante são algumas das coisas que a Troika o obrigou a fazer e não podemos esquecer que a mais importante de todas, a reforma do Estado, não foi feita. Atribuir-lhe algum mérito pela ainda incipiente retoma da economia implicaria concretizar as medidas concretas do governo que a permitiram e ninguém me indicou ainda uma sequer. Quanto ao mais, temos centenas de milhares de jovens emigrados, milhares de empresas falidas, um défice que nunca mais passa a excedente orçamental, uma dívida pública cada vez maior, o regresso à política dos salários baixos como condição de competitividade. Temos assim que somar à aldrabice a incompetência.

Depois, o que se segue. Temos agora um governo minoritário. Este vai desculpar-se, como é habitual nestes casos, com as “forças de bloqueio” e a falta de colaboração da oposição (os governos em maioria absoluta, como sabemos, desculpam-se com a “pesada herança do passado” ou com a conjuntura internacional). A partir daqui, a oposição irá deixar o governo cozinhar em lume brando. Vai esperar pela confirmação do défice para este ano, que será muito superior aos 2,7% prometidos. Quando as agências de notação derem conta, outra vez, dos problemas estruturais por resolver da nossa economia e baixarem a notação da República, ou quando o preço do petróleo voltar a subir, ou as taxas de juros, chegará o momento de uma moção de censura e iremos outra vez a eleições.

Talvez um dia o eleitorado faça o que deve ser feito e castigue duramente quem o tomou por parvo e quem governou mal. Talvez um dia encare de frente o elefante na sala, aquele que todos fingem não existir, e varra do mapa os traficantes de promessas. Serviria de lição aos outros e abriria espaço na Assembleia da República para novos políticos e novos partidos. Bem precisamos.

Por: António Ferreira

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