Tendo como pressuposto que o PPD-“PSD” tem 1 ethos – tendo como pressuposto… – sou forçado a declarar que nada me está tanto nos antípodas.
Diz-se – desde logo na designação – que é “social-democrata” e isso é que – precisamente – não é e, pelos vistos, nunca foi. A social-democracia enche-nos o peito quando viajamos pela Suécia – mesmo que, aí, a concreção seja bastante rígida.
Diz-se que Sá Carneiro foi 1 grande estadista – e isso é que, precisamente, nunca foi.
Perante a luta que travou contra comunistas e quejandos, após o 25 de Abril, curvo-me; tal qual me curvo por ter abandonado a Assembleia Nacional, ao tempo do Primeiro-Ministro Marcello Caetano.
Sucede, todavia, que um politico, para mim, tem que ter altura interior. Eu sei: todos nós temos defeitos. Alguns, contudo – como sabe qualquer um – não os podemos ter.
Foi uma pressa para casar com Isabel, que, na altura, tinha, salvo erro, 18 anos. Após ter-lhe arranjado cinco filhos (como a maior riqueza é o Homem, também aqui me curvo pelo seu radical optimismo existencial e o seus sentimentos populacionistas, como se diz em Demografia), após ter-lhe arranjado cinco filhos e, ao que li, ter tido, durante dezenas de anos, um casamento feliz, o encontro com Snu Abecassis deitou o matrimónio a perder.
A esse respeito, nada de comentários a fazer.
Sucede é que Sá Carneiro pertencia ao estrito grupo de privilegiadas famílias portuenses que se relacionava, muito de perto, com o bispo – e os bispos do Porto, desde a Idade Média, nunca foram gente insignificante.
Uma vez que o casamento com Isabel era exemplar e que a ligação com Snu Abecassis era uma mancebia – o que, ainda por cima jurista, devia muito bem saber – era absolutamente impossível solicitar uma anulação canónica do matrimónio.
Pois o jurista-politico não sentiu qualquer vergonha em trilhar tal caminho. O desplante foi a ponto de, para tal efeito, procurar D. António Ferreira Gomes, o conspícuo bispo de então. D. António nem sequer o recebeu – tanto mais de salientar quando eram amigos chegados.
Sobre o martírio que é uma anulação canónica do matrimónio sabe-o, muito reconditamente, qualquer um que por tal transe já passou.
Há defeitos que não se podem ter, porque não se é e não-é ao mesmo tempo – qualquer caloiro de Filosofia o aprende com Parménides.
Em termos de horizontes culturais do dito partido estamos conversados. Pacheco Pereira é uma das excepções que confirmam a regra.
O mundo do PPD-“PSD” é dos “cifrões” e, em última análise, os “cifrões” são uma paranóia. Mais. Tanto os “cifrões” como a paranóia são a anti-cultura. Piores que o nazismo, mesmo que o outro puxasse do revólver. O homem é uma extensão da terra e, por trás do Cosmos, está a Infinita Inteligência do Universo. Não é o mesmo nascer-se na Arménia, na Transilvânia, na Albânia, na Sardenha, nas Lipárias, ou seja onde for. Nem é necessário ser-se esotérico para o saber.
Nascer na Covilhã ou na Guarda não é o mesmo – e a ninguém é autorizado, em nome da rentabilidade crematística (do dinheiro), a determinar onde deve nascer. Ou, de espúrios interesses.
Eu nasci na casa dos Pais com a D. Camila (a parteira de então) ao lado. Era assim, na altura. Nasci genuíno, de mim, do que era – e para sempre – é e será meu.
Só para os pederastas e lésbicas – seguramente – é que nascer não é uma espiritualidade.
A espiritualidade é, agora, relativamente ao tempo do meu nascimento, a maternidade mais próxima – a Guarda. Mas não é a maternidade crematística, corporativa, mecanicista, dos comissários políticos, ou outros. Àqueles que, saídos da Faculdade de Medicina, não sabem isto, que cumpram um imperativo – ler instantemente Pedro Laín Entralgo.
Os obstretas que se opõem à transferência têm-me à disposição para lutar contra a monstruosidade que é a anunciada transferência. Que todos os egitanienses cerrem fileiras contra tal monstruosidade.
Aos filiados e independentes que no PPD se encontram – e muito me honram com a sua reiterada, alta estima, ou simples amizade – digo-lhes: estou certo que não sois desses.
Aos traidores, vendidos e comissários políticos saibam que merecem dó.
Guarda – 18-XI-04
Por: J. A. Alves Ambrósio