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«O Conservatório tenta estabelecer mais ligações com as instituições da cidade»

Cara a Cara – Entrevista

P- O Conservatório S. José abriu as portas ao público na semana passada. Por que teve essa necessidade?

R- Foi para dar oportunidade às pessoas que ainda não conhecem o Conservatório da Guarda de nos visitarem e terem contacto directo com a oferta de cursos que disponibilizamos. Houve também o intuito pedagógico de fazer uma demonstração dos diversos instrumentos, porque, por vezes, os alunos que nos procuram só têm referências dos instrumentos que vêem na televisão, dos que ouvem na rádio, e, normalmente, escolhem-nos para estudar. O piano e a guitarra são sempre os mais procurados, pelo que quisemos mostrar que há outros, como a viola d´arco, o violino, a trompete ou o acordeão. São instrumentos que leccionamos e que, se eles quiserem e sentirem uma empatia com eles, têm oportunidade de estudar aqui, porque temos professores altamente qualificados para o fazer. Por exemplo, houve um aluno que ficou muito sensibilizado com o clarinete, nunca tinha visto nenhum e nem sequer sabia que som produzia, mas presumo que vai ser nosso aluno nessa classe.

P- Acharia possível que a legislação relativa aos conservatórios fosse já aplicada este ano?

R- No ano passado houve um estudo de avaliação do ensino artístico em Portugal que tinha uma série de recomendações muito preocupantes para a continuidade dos Conservatórios, tal como eles existem agora. Elas não serão aplicadas este ano lectivo, porque foi constituído um grupo de trabalho no Ministério da Educação para fazer novos estudos sobre o ensino da música nos Conservatórios, nomeadamente planos de estudos, currículos e organização dos cursos. Algumas coisas irão, concerteza, ser mudadas, no entanto existem já algumas medidas nos Conservatórios públicos. Em Portugal há cinco do género, onde as crianças não pagam absolutamente nada para estudar música. Ficam em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Aveiro. Na Guarda não temos essa possibilidade, existe o Conservatório S. José, que é uma escola de ensino particular e cooperativo, directamente ligada com o Ministério da Educação e que é tutelado pela Santa Casa da Misericórdia da Guarda. No entanto, recebemos um apoio do ministério que não chega para cobrir os custos do funcionamento do Conservatório e, por isso, temos que cobrar propinas. Para nós seria melhor se existisse um Conservatório público e que os habitantes da Guarda não pagassem absolutamente nada para estudar música, mas isso não nos compete a nós decidir. Em relação à legislação, não vai sair nada este ano para o ensino particular e cooperativo, estando previstas várias reuniões entre a tutela e as escolas do ensino de música particular e cooperativo com objectivo de chegar a um entendimento do que é melhor para o ensino artístico de música em Portugal.

P- Quais os projectos que tem para este ano lectivo?

R- Temos vários. O Conservatório tenta cada vez mais estabelecer ligações com as diversas instituições da cidade, como o TMG, a Câmara Municipal, diversas escolas básicas e secundárias e o IPG. Temos várias actividades que vamos desenvolver ao longo do ano, além das que já fazemos aqui mesmo na escola. Uma vez por mês oferecemos recitais de entrada gratuita para quem estiver interessado em ouvir música no Conservatório, através dos nossos melhores alunos, o que também é uma maneira deles praticarem e de se habituarem ao palco. É bonito e vale a pena ouvir. Fazemos também audições no final de período, que costumam acontecer em diversos espaços da cidade. Este ano vamos desenvolver uma rubrica, intitulada “O Conservatório na cidade”, que consiste numa série de concertos em diversos pontos da Guarda entre Janeiro e Julho. Vamos ter a segunda edição do Festival de Música Contemporânea da Guarda, em colaboração com o TMG, e a rubrica “Abraçar a música”, em que, durante uma semana, professores e alunos vão deslocar-se a diversas escolas do ensino básico para fazer uma demonstração de diversos instrumentos e dar um pequeno concerto para quem nunca ouviu os instrumentos, nem têm noção que podem elas próprias fazer música. Às vezes pensam que andar no Conservatório é só para aqueles que são dotados, que são especiais. Não, qualquer pessoa que tiver capacidade de trabalho e de estudar pode estudar música.

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