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O Clube da Inês

Pensando bem, depois da escola do Moniz Pereira, e das medalhas do Lopes e da “Rosinha”, já pouco ou nada nos resta em termos de grandes valores no atletismo. As atenções (e os apoios) estão agora quase exclusivamente viradas para o euro 2004. O País futebolizou-se. Mas adiante…. No domingo assisti à reportagem televisiva da “Meia Maratona Ribeirinha da Moita”, a 6ª, que era ao mesmo tempo, o Campeonato Nacional de Estrada de 2003. Após vinte e tal quilómetros de corrida, duas atletas, lado a lado, aproximam-se da meta, isto, por entre alguns atletas masculinos que vão completando o seu esforço já sem grandes aspirações classificativas.

A impressão que tive ao ver a peça foi de que as imagens não batiam certo com o “lead” da notícia. “Inês Monteiro, nova campeã nacional de estrada”. Ao mesmo tempo apresentavam-se as imagens de Inês Monteiro e Marina Bastos a cortarem a meta. De mãos dadas! Fiquei embasbacado a olhar para aquilo. Então e o sprint final para decidir o título de campeã nacional? Depois de pensar um pouco, não encontro, ou não quero encontrar, explicação para o sucedido. Só sei que dessa maneira retiraram todo o brilho ao título. Correram para algo que não a glória. Não honraram a condição de desportistas. Ainda se fosse a chegada da centésima e da centésima primeira. Até se percebia. Agora daquela maneira, a disputa do primeiro lugar! As mãos dadas são sinal de companheirismo e de consolo por se chegar ao fim. Nunca o símbolo de uma luta renhida, como a que se previa entre as duas atletas. Há coisas que ficam bem a uns e mal a outros.

Já no dia anterior, sábado, lembro agora, a Inês me tinha surpreendido, desta vez através de uma notícia radiofónica. Dizia, não sei se à “Efe”, se à “Altitude”, que tinha decidido criar um clube de atletismo na Guarda. Fiquei um pouco perplexo quando ouvi a noticia. Primeiro pensei ser positivo que alguém com provas dadas no panorama do desporto de competição decidisse abraçar a causa do Dirigismo Desportivo. O mundo do Desporto só tem a ganhar com a entrada de antigos atletas ou juízes para cargos directivos. Depois pensei no clube do “CDC do Pinheiro” e no grande trabalho de formação que desempenhou ao longo dos anos. Será que já não existe? Será que a Inês se incompatibilizou com os Dirigentes? Ou será que o clube, como tantos outros em Portugal, prefere agora enveredar por áreas em que é mais fácil e mais barato atingir projecção? Por outro lado pensei, que grande trabalhão que a Inês vai ter. É que para pôr um clube a funcionar são precisos associados. São necessárias eleições para os Órgãos sociais. São necessários regulamentos que imponham regras. Da forma como a Inês pôs o projecto talvez fosse mais aconselhado ter criado uma sociedade, uma empresa. Mas mais espantado fiquei quando soube que o clube da Inês vai ter só 6 atletas e que o objectivo dela é, daqui a três ou quatro anos, vir a ingressar no mesmo. Dá a ideia que a atleta prepara já a sua reforma. Agora que escrevo, ligo os assuntos, a Meia-maratona e o Clube da Inês. E não gosto do que vejo. Afinal a Inês é já um baluarte da cidade da Guarda. Quando corre é a cidade que a viu nascer e crescer que também corre. É um símbolo da Guarda, dos poucos que ainda vamos tendo. Está na fase de maior rendimento desportivo, naquela em que pode alcançar os maiores feitos. Fará ela bem em dispersar a sua atenção e concentração com assuntos que não os estritamente relacionados com a sua preparação e o seu rendimento desportivo? E quanto às mãos dadas? Não havia necessidade.

Por: Fernando Badana

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