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O cientista da Guarda

Editorial

1. No debate sobre as grandes opções do país, pouco se tem falado sobre ciência. Mas sabe-se que os cortes e a austeridade em que vivemos conduzem a uma redução substancial na disponibilidade de recursos para a Educação e, em consequência, para a investigação e ciência. Do que não há dúvidas é que Portugal vive um tempo extraordinário em termos de investigação. Um tempo que foi marcado pelo antigo ministro Mariano Gago que “inventou” o Portugal da investigação e da ciência. Um tempo que alterou, estruturalmente, o Portugal provinciano, de vistas curtas e pouca formação.

Há uma geração de investigadores e cientistas notáveis, a trabalhar em Portugal ou no estrangeiro, e que conseguiram pelo seu mérito, com o seu trabalho e a sua competência mudar completamente a perceção que os portugueses tinham da ciência e da investigação. Aquilo que parecia distante e próprio de estudiosos de outros países, e que raramente tinha a ver com portugueses, passou a ser visto com maior proximidade e possível para os portugueses. A ciência ainda não é uma opção natural e as patentes nacionais ainda são poucas, mas a investigação passou a fazer parte do quadro de honra do orgulho nacional e proliferam centros de investigação, desenvolvimento e tecnologia pelo país, associados a universidades ou a outras instituições.

Neste contexto, foi com satisfação que recebemos a notícia de que o guardense Rui Costa, investigador principal do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, irá receber uma bolsa de dois milhões de euros para, durante cinco anos, com a sua equipa de 20 investigadores, estudar como o cérebro consegue criar conceitos e ações complexas a partir de pequenas ideias e movimentos. Rui Costa é o primeiro investigador português a receber duas bolsas do European Research Council (a primeira foi em 2009) avocando-se como uma referência internacional no estudo de neurociências.

O cientista, que regressou a Portugal depois de quase dez anos nos Estados Unidos para integrar a equipa inicial de investigadores da Champalimaud, está de parabéns e merece o reconhecimento público da sua cidade, a Guarda. Ele é a confirmação do muito que mudou nos últimos dez anos em Portugal, ao ponto de termos laboratórios de nível internacional e investigadores de elevada craveira. Este caminho não pode ser perturbado.

(Nota: Rui Costa é meu amigo pessoal e foi colaborador do jornal O INTERIOR, tendo assinado nomeadamente a rúbrica “Ciência & Tecnologia” nos dois primeiros anos deste semanário: 2000 e 2001).

2. Quando há oito anos sugeri que nesta região se criasse um concurso de vinhos que “certificasse” e dignificasse a qualidade dos néctares da Beira Interior, não imaginava o relevo que o mesmo viria a ter e a influência e contributo que viria a exercer na afirmação dos vinhos da região. Hoje, quando noticiamos o aumento de exportações de vinho da região, para os mais variados destinos, e com uma qualidade superior, não posso deixar de recordar o caminho percorrido, o mérito da Comissão Vitivinícola na qualificação e adequação aos mercados internacionais, e o contributo das associações empresariais, e em concreto do NERGA e NERCAB, na promoção e internacionalização dos vinhos da Beira Interior. O vinho produzido na região é hoje um valor económico seguro e em crescimento.

Luis Baptista-Martins

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