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O balanço possível

Pois, Pois

Joaquim Valente é um homem civilizado. Uma pessoa extremamente bem-educada. Parecendo que não, este pormenor é importante. Pelo menos, para mim é. O homem não nos envergonha em lado nenhum. Neste aspecto, a Guarda teve sorte, sobretudo se tivermos em conta que a maioria dos autarcas que pululam por este país fora parecem uns grunhos, uns tiranetes da pior espécie. Obviamente, isto é positivo, mas não chega para o tornar um bom presidente de Câmara. Ainda é muito cedo para tirar conclusões – só ainda passaram sete meses desde a tomada de posse –, mas já é possível vislumbrar sinais. Alguns positivos. Outros negativos. Outros inquietantes. Comecemos pelos positivos.

Valente criou grandes expectativas. Isso nunca tinha acontecido anteriormente com nenhum presidente desta autarquia. O que é que as pessoas esperavam de Maria do Carmo? Pouca coisa. De Valente esperam-se grandes coisas da sua famigerada “magistratura de influência”, para usar as suas próprias palavras (ainda que plagiadas de Mário Soares), numa clara insinuação à sua amizade com o nosso primeiro. De maneira que o homem sabia desde o primeiro momento que tinha de mostrar serviço. Desgraçadamente, a Câmara chegou-lhe às mãos com as contas num estado deplorável, mas nem disso ele se pode queixar muito, porque sempre desvalorizou esse problema.

A verdade é que o executivo não tem dinheiro para lançar obras. Ironicamente, isto até pode ser uma bênção. Sem dinheiro não há vícios e os autarcas locais vêem-se assim obrigados a puxar mais pela cabecinha e imaginação, a acabar com uma série de desperdícios e a racionalizar os custos, nomeadamente na contratação de pessoal sem nenhum critério compreensível para o comum dos mortais que não seja o de aumentar a corte de lacaios. E, verdade seja dita, Valente está a tentar fazer alguma coisa nesse sentido.

Bem ou mal, mexeu na organização interna dos serviços, algo cuja necessidade entrava pelos olhos adentro de qualquer munícipe que tivesse a infelicidade de lidar com a burocracia camarária. Sobretudo nota-se nesta equipa voluntarismo. Uma notória vontade de mexer nas coisas e de pôr as coisas a mexer. Este é, até agora, o aspecto mais positivo.

Infelizmente, o reverso parece ser precipitação e falta de planeamento. As trapalhadas do GuardaMall, muito justamente denunciadas por este jornal, são emblemáticas. O investimento da Iberdrola no concelho é mais um acto falhado, esfumando-se assim a possibilidade de criar cerca de 500 postos de trabalho. Isto não invalida que a atracção de investimento não deva continuar a ser a prioridade número um deste executivo. Sem isso, não há produção de riqueza nem de emprego.

O passivo de 321 mil Euros do TMG, no espaço apenas de oito meses, é inquietante. É inadmissível que até o bar, que supostamente é uma fonte de receitas, apresente um prejuízo de mais de 45 mil euros. No mínimo, chama-se a isto incompetência, cuja responsabilidade é, em última análise, do Conselho de Administração, cujo presidente é Joaquim Valente e onde têm assento mais dois vereadores (Virgílio Bento e Lurdes Saavedra) e, claro, o director financeiro e o director artístico. Infelizmente, estes dados, tornados públicos pelo Interior, vieram assombrar recentes declarações de Américo Rodrigues, que nos garantia estarmos perante um grande sucesso, que terá mesmo impressionado alguns indígenas espanhóis – para já, apenas os que vivem mais próximos da fronteira. Espero que se tomem medidas drásticas, para que a Guarda possa continuar a impressionar o mundo.

Moral da história? É de louvar a vontade de Valente em agitar as águas – embora tenha a impressão de que essa vontade esteja a perder gás, mas, espero, que seja apenas resultado do calor da época; É preocupante a falta de planeamento e de estratégia revelados nestes primeiros meses. Esperemos que a vontade se mantenha e que a estratégia e o planeamento se revelem, finalmente.

José Carlos Alexandre

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