Em 1801, um astrónomo britânico William Herschel (1738-1922) observou que, nos anos em que não havia manchas na superfície do Sol, os preços do trigo aumentavam – o que era sinal de más colheitas.
Os astrónomos sabem que as manchas solares correspondem a zonas de campos magnéticos muito intensos na superfície do Sol. A libertação súbita da energia magnética no Sol durante fenómenos chamados fulgurações, produz grandes quantidades de partículas carregadas electricamente que são lançadas no espaço a velocidades próximas da velocidade da luz. Pode também ocasionar ejecções de matéria, em que grandes nuvens de gás electrificado são expelidas pelo Sol a velocidades que podem atingir os 6 milhões de quilómetros por hora.
Como resultado de vários estudos sobre as manchas solares descobriu-se que a actividade magnética do Sol apresenta uma periodicidade de 11 anos. Essa actividade magnética, visível à superfície do Sol, projecta-se pelo espaço circundante atingindo os planetas terrestres, pelo menos até Júpiter. Um caso conhecido da influência da actividade solar na alteração climática da Terra é o do Mínimo de Maunder, um período de 70 anos, de 1645 a 1715, no qual a actividade de manchas solares virtualmente diminuiu. Esta diminuição foi acompanhada na Terra por uma drástica redução da temperatura. Em todo o continente Europeu e América do Norte, registaram-se temperaturas muito baixas e o rio Tamisa, em Londres, esteve mesmo congelado sendo possível ser atravessado a pé.
Mas a influência da actividade magnética solar no clima terrestre não se limita à influência na temperatura global do globo.
O Sol emite raios cósmicos que variam ao longo do tempo, esta variabilidade do fluxo de raios cósmicos que atinge a Terra, que é modulada pela actividade solar, parece também afectar o clima, designadamente através da variação do grau de ionização da atmosfera e de consequente formação de nuvens, que entre funções, irão influenciar fortemente a quantidade de luz solar que é absorvida na atmosfera.
A contribuição de todos estes fenómenos de interacção entre o Sol e a Terra, com reconhecida periodicidade ou incerta variabilidade e, alguns deles, com elevada amplitude para o clima do nosso planeta não é consensual dentro da comunidade científica. Um estudo publicado em Março pela revista Geophysical Research Letters sugere que, mesmo a repetição de um mínimo de Maunder, neste século apenas reduziria a temperatura média global em 0,3ºC até 2010.
Passados estes dois séculos sobre esta tentativa de associar a actividade solar ao clima terrestre a questão ainda continua por esclarecer.
Por: António Costa