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O Álibi

Quebra-Cabeças

Há já quem diga que este é o pior governo de que há memória. É verdade que a mesma acusação foi feita ao governo anterior e a outros, muitos, antes desse. Digamos que não nos surpreende a notícia de que somos mal governados. O problema é que poucas vezes antes desta fomos tomados tão descaradamente por parvos.

Durante anos, que são já anos disto, governou-se como se o controlo do défice fosse o único objectivo. Para isso quebraram-se todas as promessas eleitorais que implicassem aumento da despesa ou diminuição da receita. Ao mesmo tempo, berrava-se sobre a pesada herança guterrista e assustava-se toda a gente sobre o estado da economia e das finanças públicas, o que teve o efeito de lançar o país na depressão, entre outras razões por falta de confiança dos agentes económicos. Com o mesmo declarado objectivo, o controlo do défice, proibiram-se as autarquias de contrair empréstimos. A excepção, como sempre, foi a Madeira. Temos assim os favorecidos e os falidos. Solidariedade nacional aonde?

Como dizia, foram anos disto. E, alguns anos depois de finalmente ter sido eleito primeiro-ministro, Durão Barroso ridiculariza os sacrifícios a que obrigou os portugueses ao deixar passar sem consequências os défices alemão e francês, piores ainda que o nosso. É verdade, como dizia António Barreto, que é obrigatório controlar o défice e que não se pode continuar a viver à custa das gerações futuras mas, mesmo assim, que humilhação, que falta de coerência…

Depois há a cruel questão dos números: o défice, afinal, está pior do que estava no tempo do PS e muito pior estaria se não fossem os malabarismos contabilísticos e as vendas de património. O que significa que sofremos para nada, para rigorosamente nada, que do objectivo de controlo do défice nada resultou senão anos de inúteis sacrifícios e o IVA a dezanove por cento.

Por razões de pura piedade cristã, poupo os leitores à recapitulação dos erros, omissões, escândalos, mentiras a que o governo de Durão Barroso nos submeteu durante estes anos. Agora, a meio do mandato, depois de anos a invocar como álibi da sua ineficácia a incompetência do último governo de Guterres, é óbvio que Durão Barroso vai ser o álibi do próximo governo socialista.

Por: António Ferreira

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