Esta época do ano é caracterizada pelo balanço nas diferentes áreas da sociedade, elegendo-se as figuras nacionais e internacionais e os acontecimentos que marcaram o ano. Mais do que uma revisão do que se passou, estas listas deveriam procurar marcar tendências esperadas para o ano seguinte.
Na Ciência, a definição do acontecimento do ano vem com um lastro de importância maior do que noutras áreas porque este evento está na pole position para ganhar um dos Prémio Nobel da área da Ciência no ano seguinte.
A revista “Science” escolheu para 2017, como acontecimento do ano, a primeira observação da colisão de duas estrelas de neutrões. A colisão das duas estrelas, a 130 milhões de anos-luz, gerou ondas gravitacionais detetadas na Terra. Ondas essas que tinham sido previstas há mais de cem anos pelo físico Albert Einstein, mas foram detetadas diretamente pela primeira vez em 2015 (Prémio Nobel da Física em 2017), quando dois grandes buracos negros (zonas do Universo de onde nada pode escapar, nem mesmo a luz) chocaram.
As estrelas de neutrões são os objetos de grande escala mais densos no universo conhecido. Embora tenham apenas cerca de 30 quilómetros de diâmetro, têm uma massa como a totalidade do sistema solar. Usando uma outra imagem, seria como comprimir toda a população humana no volume de um cubo de açúcar. As estrelas de neutrões são assim chamadas porque são quase inteiramente constituídas por partículas subatómicas chamadas neutrões. Normalmente, os átomos contêm neutrões e protões nos seus núcleos. No entanto, quando se formam estrelas de neutrões, a compressão é tal que a matéria se desintegra. Os eletrões e os protões combinam-se para formar mais neutrões, e a estrela torna-se uma bola gigantesca de partículas subatómicas combinadas. As estrelas de neutrões normais têm campos de força magnéticos que chegam a ter 50 mil milhões de vezes mais potência do que um magneto do frigorífico. Por vezes formam-se campos ainda mais potentes, cerca de 100 mil milhões de vezes mais forte, que poderiam desmagnetizar todos os cartões de crédito existentes na Terra.
Esta é uma descoberta do tipo dois em um: pela primeira vez, foram detetadas as ondas gravitacionais que se geram na violenta dança cósmica entre duas estrelas de neutrões, e também pela primeira vez foi captado, com recursos a dezenas de telescópios terrestres e espaciais, o brilho intenso e efémero que se gerou na colisão inevitável que se seguiu. Esta observação permite, por um lado, confirmar ondas gravitacionais utilizando pela primeira vez a luz (até agora só se tinham confirmado este tipo de ondas nas colisões entre buracos negros) e, por outro lado, a verificação de que as colisões de estrelas de neutrões produzem ondas gravitacionais.
Aguardemos até ao início de outubro para verificar se o acontecimento de 2017 vai originar um Nobel.
Por: António Costa