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O acentuado efeito estufa

Mitocôndrias e Quasares

O clima da Terra tem vindo a mudar ao longo da história do nosso planeta. Muitas das flutuações são padrões passageiros, mas os movimentos do ar, água e massas continentais contribuem para uma mudança a prazo. O impacto humano também é significativo: sempre que alteramos o ecossistema da Terra, os efeitos podem ser dramáticos.

Os meses de julho e agosto foram excecionalmente quentes, tendo-se registado valores da temperatura do ar muito acima da média para este período do ano. Se para alguns estes valores são sinal de um bom negócio de verão, com as praias cheias de veraneantes ou de uns dias de férias sem aquele vento irritante ou a neblina e nevoeiro matinal que teima em persistir ao longo do dia, para outros vêm confirmar o que se tem vindo a verificar – o aquecimento do planeta.

Não há contestação quanto ao facto de que a Terra está a aquecer. A polémica inicia-se quando se quer definir quanto é fenómeno natural e quanto é causado pelos seres humanos. Registos paleoclimáticos mostram que tem havido grandes variações no clima ao longo da história da Terra.

A maioria dos cientistas está agora de acordo que o aquecimento global deve ser considerado como um facto e não como a teoria aceite até há poucas décadas: o clima global aqueceu cerca de 0,5ºC nos últimos cem anos. Medições rigorosas da temperatura de análises dos registos históricos revelam uma tendência acentuada para o aquecimento global desde o fim do século XIX. Estes indícios são também confirmados por um número crescente de observações indiretas. Os glaciares estão a retroceder e as linhas de neve estão a deslocar-se mais para cima nas encostas das montanhas. A subida dos níveis do mar também é consistente com o aumento das temperaturas: quando o gelo derrete, os oceanos expandem-se. As alterações na vegetação são evidentes, em especial nas regiões polares e nas regiões semiáridas.

Para todas estas alterações muito contribuem os denominados gases de efeito de estufa, entre eles o vapor de água, o ozono e o dióxido de carbono. Estes gases tornam a Terra habitável absorvendo a radiação de infravermelhos e voltando a irradiá-la para a Terra, aquecendo assim o planeta e fornecendo as condições que permitem a existência de vida. No entanto, no tempo pós-industrial, estes gases naturais de estufa tornaram-se mais concentrados, com um aumento considerável na quantidade de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera.

O efeito de estufa natural foi, portanto, reforçado, e com ele, a Terra ficou mais quente. Este fenómeno muitas vezes é conhecido por “efeito de estufa acentuado”. Em Portugal, e segundo os dados da Pordata, observou-se um aumento da emissão destes gases de efeito de estufa do valor de 60.426.000 tonelada equivalente a dióxido de carbono em 1990 para o valor de 65.071.000 tonelada equivalente a dióxido de carbono em 2013. Esta subida está em linha com a verificada na União Europeia para o mesmo período de tempo.

O primeiro passo para combater estas alterações foi dado em 2001, quando o Painel Intergovernamental sobre a Mudanças Climáticas (IPCC), instituído pelas Nações Unidas, comunicou que as mudanças demonstráveis no clima ocorreram «desde a era pré-industrial, e que algumas dessas mudanças são imputáveis à atividade humana». Já o passo mais recente, que se espera que não seja o último, foi dado pelos EUA e pela China que ratificaram o acordo no Clima assinado em Paris em 2015.

O Acordo de Paris é o primeiro pacto universal para tentar combater a mudança climática e não entrará em vigor até que tenha sido ratificado por menos 55 países, totalizando 55% das emissões globais. Destinado a substituir o Protocolo de Kioto em 2020, o Acordo de Paris tem como objetivo manter o aumento da temperatura média mundial «muito abaixo de 2°C», mas «reunindo esforços para limitar o aumento de temperatura a 1,5°C» em relação dos níveis pré-industriais. Esperamos que este passo dado pelas duas maiores economias do mundo seja a alavanca que impulsione verdadeiramente o combate ao acentuado efeito de estufa.

Por: António Costa

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