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Novas políticas para corrigir desequilíbrios?

Opinião

Um “político de província” – como se auto-intitulou José Sócrates – venceu as eleições legislativas com uma maioria folgada e governará Portugal nos próximos quatro anos. Dele os portugueses exigem a formação de um governo de excelência que ponha em marcha as medidas enunciadas no programa eleitoral e corrija os grandes desequilíbrios que, consensualmente, são apontados ao país. Ao homem que já foi técnico da Câmara da Covilhã, pede-se que tome medidas que atenuem o escandaloso desequilíbrio existente entre o litoral desenvolvido e superpovoado e o interior desertificado com escassas infra-estruturas públicas, realidade conhecida pelo novo primeiro-ministro, ele próprio cabeça de lista num distrito do Interior onde obteve, também aqui, uma vitória histórica.

Parece consensual na sociedade portuguesa que nos últimos 40 anos o país cresceu mais do que qualquer país da Europa Ocidental. O país rural povoado por uma população inculta, analfabeta, conservadora e pobre ficou para trás e não deixou muitas saudades como se pôde constatar nos últimos 30 anos de democracia. Mas ficaram – em alguns casos acentuaram-se – resquícios de graves desequilíbrios na sociedade portuguesa que impedem o “grande salto” para a frente do pelotão dos países desenvolvidos. Os males têm sido diagnosticados pela generalidade das figuras de proa nacionais.

A fraca qualidade de grande parte dos agentes políticos é apenas um reflexo da sociedade e da inexistência de uma cultura cívica apurada e do exercício da cidadania responsável. Este é o país onde a fuga aos impostos e os crimes na estrada são olhados com benevolência pela generalidade dos cidadãos. Por seu turno, o caciquismo, a “cunha”, o favoritismo e o oportunismo partidário ainda minam a nossa democracia relegando o mérito e o esforço para um plano secundário.

São necessárias, por isso, medidas urgentes que eliminem as profundas desigualdades sociais e tragam alguma dignidade aos dois milhões de portugueses pobres. É inconcebível que, dos 15 países que constituíam a União Europeia até Maio de 2004, sejamos o país onde a diferença entre ricos e pobres é mais acentuada, como aludiu Freitas do Amaral. O manancial de fundos comunitários que entraram em Portugal nos últimos anos não beneficiou toda a população por igual.

Os portugueses atribuíram ao Partido Socialista a responsabilidade e as condições políticas para combater alguns dos vícios que enfermam a sociedade – começando pelos próprios partidos. Não terá, por isso, desculpas para afastar os incompetentes, os oportunistas ou os corruptos. Ao novo governo o país exige a capacidade para elevar o país da mediocridade reinante, a continuação de algumas boas medidas que vêm do governo anterior como o combate ao défice excessivo, a redução da fuga aos impostos e a fraude fiscal. Mas também a reforma do Estado de modo a melhorar o acesso dos cidadãos aos serviços públicos de qualidade (saúde, educação, justiça), eliminar a burocracia e combater a corrupção e o compadrio, pugnar por um melhor Ambiente, investir na qualificação dos portugueses pois acabou o tempo da mão-de-obra barata.

Terá o partido vencedor um projecto nacional que mobilize os portugueses para a reforma da sociedade? Terá capacidade de gerar consensos e coordenar interesses, objectivamente divergentes, da sociedade portuguesa no sentido da excelência e do rigor?

Quanto a mim, acredito em Portugal, na decisão dos portugueses e na sua capacidade para vencer os desafios da modernização – e da modernidade – da sociedade portuguesa.

Manuel Sabino Perestrelo

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