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Novas barragens são «imprescindíveis» a curto prazo

Coordenador de estudo sobre impactos de aproveitamentos hidroeléctricos na Região Centro realça importância de projectos planeados para o distrito da Guarda

Os aproveitamentos hidroeléctricos da Senhora de Assedasse (Gouveia), Girabolhos (Seia), no rio Mondego, Pêro Martins e Senhora de Monforte, no Côa, são «imprescindíveis» a curto prazo ao desenvolvimento económico da região. Aníbal Traça, professor da Universidade de Coimbra e coordenador de um estudo sobre os impactes de grandes e médias barragens na região Centro, defendeu recentemente na Guarda que o investimento nestes projectos vai ser determinante para incrementar o turismo e viabilizar a hortofruticultura de alto valor acrescentado, permitindo ainda regularizar os caudais – quer de cheias ou de esteais – ou ajudar no combate a incêndios.

O especialista foi um dos convidados do seminário “Energias Renováveis, Ambiente e Desenvolvimento Regional”, promovido pela ENERAREA (Agência Regional de Energia e Ambiente do Interior), onde deixou claro que os argumentos a favor destes empreendimentos são «altamente» positivos em termos económicos e energéticos, enquanto os impactos ambientais são mínimos. «Estes aproveitamentos, e admitindo uma taxa de juro de seis por cento, são viáveis e têm uma elevada rentabilidade», garante, recordando que, até 2010, Portugal vai ter que gerar 39 por cento da sua produção eléctrica através de energias renováveis devido a uma directiva europeia. «Por todas as razões e mais esta, é extremamente importante a construção de algumas destas albufeiras a muito curto prazo», garante, Aníbal Traça. O estudo de 14 aproveitamentos hidroeléctricos na região Centro, encomendado pela antiga Comissão de Coordenação da Região Centro (CCRC) a uma equipa técnica multidisciplinar, mereceu uma posição favorável dos municípios afectados e já foi enviado ao ministro do Ambiente, devendo ser apresentado dentro em breve ao Primeiro Ministro. Os especialistas estimam um custo global da ordem dos 350 milhões de euros, «pouco mais» de dez por cento dos 12 mil milhões de euros que serão gastos com o TGV, cujos impactos são «duvidosos», receia o professor universitário, para quem o investimento no comboio de alta velocidade é revelador de que o país atravessa um período de austeridade «relativa».

O exemplo de Espanha

Espera por isso que o Estado não adie estes projectos, pois são estratégicos para a região. «Há uma verdade, que ninguém disputa, segundo a qual a educação é o melhor investimento que uma nação pode fazer. Mas logo a seguir, os especialistas dizem que é a água. Ter água em quantidade e qualidade é absolutamente essencial», avisa Aníbal Traça, que acha ter chegado a altura do Centro do país, onde vive 17 por cento da população portuguesa, ter investimentos estruturantes. «As vias de comunicação não criam riqueza por si só, são precisos projectos concretos para um desenvolvimento sustentado da região e contrariar a desertificação», refere, olhando para Espanha onde a água transformou zonas quase desérticas na «”horta” da Europa» graças à irrigação das culturas. Um exemplo que gostaria de ver seguido em Portugal: «É um caso flagrante, com o paradoxo de terem menos água que nós. A grande diferença é que os espanhóis aproveitam aquilo que Deus lhes dá, enquanto nós deixamos a água correr para o mar e ficamos sujeitos às vicissitudes climáticas», realça. Uma experiência que, na sua opinião, poderia muito bem repetir-se na zona de Figueira Castelo Rodrigo, que possui locais com micro-climas «espectaculares para culturas sub-tropicais, mas onde não há água suficiente para as rentabilizar».

Uma situação que poderia ainda ser aproveitada para desenvolver nichos de excelência na produção de produtos biológicos de alto valor, uma vez que a agricultura portuguesa ainda é das menos “poluídas” com pesticidas. Já os municípios para onde estão projectados estes empreendimentos beneficiarão de um impacto «múltiplo» na economia local e de vantagens directas, com o professor a sugerir a atribuição para as autarquias em causa de uma percentagem da energia produzida, à semelhança do que acontece na energia eólica onde 2,5 por cento da produção é entregue às Câmaras. Quanto à concretização destes aproveitamentos, Aníbal Traça defende a constituição de parcerias público-privadas, porque o envolvimento de entidades públicas «é crucial para garantir que os interesses públicos são respeitados, enquanto a parte privada garante que os investimentos não se despistam, como é, infelizmente, tradição em Portugal».

Cinco barragens prioritárias no distrito da Guarda

O projecto da barragem da Sra. de Assedasse (Gouveia) é o empreendimento hidroeléctrico mais vantajoso de um conjunto de 14 aproveitamentos de média e grande dimensão que a EDP admite vir a construir na região Centro. Esta conclusão resulta de um estudo realizado sobre os impactos negativos e positivos destes projectos e deu origem a uma lista por ordem de prioridades. A surpresa é que cinco das barragens consideradas prioritárias estão localizadas no distrito da Guarda. Assedasse, Girabolhos (Seia) lideram a tabela, enquanto Pêro Martins (Figueira de Castelo Rodrigo) é considerada a quarta prioridade, já Atalaia (Pinhel) e Sra. de Monforte (Figueira de Castelo Rodrigo) ocupam respectivamente o oitavo e décimo lugar. Um “ranking” que pode contribuir para relançar estes empreendimentos, alguns dos quais estão na gaveta há mais de duas décadas. O estudo multidisciplinar foi encomendado pela antiga Comissão de Coordenação da Região Centro ao Instituto Pedro Nunes – Associação para a Inovação e Desenvolvimento em Ciência e Tecnologia, de Coimbra, e envolveu investigadores da universidade e especialistas de outras instituições. O trabalho, realizado no âmbito do Programa Energético da Região Centro, teve como base a análise dos potenciais impactos (energéticos, económicos, agrícolas e ambientais) de cada projecto de barragem ou albufeira, bem como a sua importância enquanto reserva de água de qualidade e recurso no combate aos fogos florestais. Por último, os técnicos não se esqueceram de auscultar o interesse dos respectivos municípios em receber estes aproveitamentos hidroeléctricos, que, no caso da Guarda, poderão vir a ser implementados nos rios Mondego e Côa, como “O Interior” já noticiou por diversas ocasiões desde 2000. De resto, a ordenação final ainda teve em conta diferentes majorações consoante os impactos considerados, com destaque para a valia eléctrica. Critérios que permitiram realçar o empreendimento da Sra. de Assedasse, cuja importância estratégica e produtiva fica agora confirmada.

A futura barragem integra o aproveitamento hidroeléctrico do Alto Mondego, também constituído pelos projectos de Girabolhos, no limite do concelho de Fornos de Algodres, e Midões. Trata-se de uma infraestrutura que promete transformar a região da Serra da Estrela e gerar receitas que não são de desprezar. Ao que tudo indica, o estudo inicial, apresentado em Fevereiro último na CCRC, aponta para uma produção de 304 Gwh por hora, que corresponde a um por cento de toda a energia gasta na região Centro, o que poderá traduzir-se numa receita anual superior a 12 milhões de euros (perto de 2,5 milhões de contos). Os autarcas de Gouveia, Manteigas e Guarda, principais municípios afectados, já se mostraram receptivos à obra desde que sejam salvaguardados alguns impactos ambientais e paisagísticos numa área onde prontificam os famosos Casais de Folgosinho ou o Covão da Ponte. Nesse sentido, terão mesmo exigido uma redução da quota proposta em 10 por cento para acautelar a «especificidade cultural e social» dos Casais e preservar o magnífico recanto do Covão da Ponte.

Luis Martins

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