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Notas Soltas III

Menos Que Zero

1. Em pouco mais de duas horas, uma equipa de voluntários recolheu cerca de uma tonelada de lixo na zona da Torre. A recolha, organizada pelo Centro de Interpretação da Serra da Estrela, demonstrou mais uma vez a falta de respeito dos portugueses por um património que é de todos. Como referi na semana anterior, só perseguindo e multando os prevaricadores é possível resolver esta falta de civismo, mas neste caso há quem tenha responsabilidades em limpar a zona. Em primeiro lugar, o concessionário do turismo na Serra da Estrela, a Turistrela. Em qualquer concessão deste género, a empresa que explora a estrutura é contratualmente obrigada a zelar pelo asseio do local. Aparentemente, o contrato de exploração não tem qualquer cláusula neste sentido, o que é um absurdo, mas o bom-senso manda que o concessionário mantenha a sua zona de exploração limpa. Com o bom-senso arredado da questão, restava esperar que a Câmara Municipal de Seia ou o Parque Natural tratassem do assunto, mas parece que não é nada com eles. E enquanto empresas e instituições com responsabilidades na Serra da Estrela assobiam para o lado, um grupo de voluntários fez aquilo que outros são pagos para fazer, mas não fazem.

2. Ardeu parte significativa do Parque Nacional da Peneda-Gerês. O Governo, que gasta milhões a sensibilizar os proprietários para a importância de manter as florestas limpas, esqueceu-se das florestas estatais. Mas para além da falta de limpeza, o Parque também não tinha bons acessos para os veículos dos bombeiros, pelo que o terreno foi pasto fácil para as chamas. Na hora das responsabilizações, os ministérios da Administração Interna, Agricultura e Ambiente resolveram trocar galhardetes, mas a verdade é que ninguém ficou bem nesta fotografia. A falta de limpeza das matas e a inexistência de acessos para veículos são o resultado do fundamentalismo ecologista de algumas instituições responsáveis por estas áreas protegidas.

3. Os escribas ligados ao Futebol Clube do Porto têm protestado veementemente contra o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos ao centro de formação do Benfica. Dizem estes senhores que a Caixa é um banco estatal, pelo que não se devia associar a um clube. Trata-se, obviamente, de uma crítica sem pés nem cabeça. O patrocínio é uma simples relação comercial entre duas entidades que esperam ganhar algo com o negócio. No meio de tudo isto só é estranho que estes senhores nada tenham escrito quando a Câmara de Gaia ofereceu ao Futebol Clube do Porto uma estrutura semelhante à do Benfica.

Por: João Canavilhas

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