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Nobel da Química 2015

Mitocôndrias e Quasares

Como vem sendo hábito ao longo dos últimos anos, o mês de outubro é dedicado à análise de trabalhos que conduziram à atribuição dos Prémios Nobel na área das ciências.

Este ano, vamos começar pelo Nobel da Química repartido pelos cientistas Tomas Lindahl, do Instituto Francis Crick (Reino Unido); Paul Modrich, da Universidade Duke (EUA); e Aziz Sancar, da Universidade da Carolina do Norte (EUA). A Real Academia Sueca de Ciências atribuiu este prémio pelos estudos dos mecanismos da reparação do ácido desoxirribonucleico (ADN).

Os laureados descobriram mecanismos de reparação do ADN que a célula realiza quando, exogenamente, vários agentes químicos e físicos, como o fumo do tabaco e a exposição a radiações ultravioletas, provocam danos no ADN.

Em 1941, o investigador americano Oswald T. Avery e seus colaboradores M.McCarthy e Ch. Mclead, abandonaram o estudo das leis que descreviam unicamente os caracteres herdados para atacar o tema a partir da análise química genética molecular. Avery demonstrou que a substância que compõe os genes, à qual desde Mendel, se atribuía, ainda que um tanto confusamente, o papel de suporte da informação, é o ADN. A descoberta de Avery viu-se apoiada pelas investigações do também americano Alfred Hershey que, em 1952, contribuíram com a prova irrefutável de que o ADN é o único suporte da informação genética e que as proteínas não desempenham nenhum papel neste capítulo.

O trabalho de Hershey acabou por convencer os que ainda tinham dúvidas. Desde então, o ADN foi reconhecido por todo o mundo científico como a substância responsável pela hereditariedade. O sistema pelo qual a longa e repetida molécula de ADN, composta apenas por quatro elementos, armazena a informação genética continuava, no entanto, sendo um mistério. Nos anos seguintes foi-se aprofundando o conhecimento da estrutura do ADN, chegando a pensar-se que esta longa molécula, albergada no núcleo de cada uma das células do nosso corpo, era muito estável, não existindo falhas na cópia do material genético. Esta ideia entrava um pouco em contradição com o facto de existirem mutações na evolução das espécies, contudo considerava-se que o seu número era bastante limitado de uma geração para a seguinte. Hoje sabe-se que a realidade é bem diferente, sendo o genoma instável e alvo de agressões exógenas. Para combater o dano provocado pelos raios ultravioletas do sol e pelas substâncias tóxicas presentes no ambiente, as células desenvolveram uma série de intrincados mecanismos moleculares que primeiro detetam esses danos e depois os corrigem. A fidelidade e integridade da mensagem genética dependem destes mecanismos de reparação, que garantem a estabilidade necessária à vida.

Tal como refere o comunicado do Comité do Nobel, «o nosso material genético não se desintegra num total caos químico porque há uma bateria de sistemas moleculares que está constantemente a monitorizar e reparar o ADN». É precisamente a compreensão destes mecanismos de reparação do material genético que permitiu a atribuição deste prémio aos três cientistas. Em próximas edições vamos olhar para cada um dos trabalhos realizados por estes investigadores. Mas para despertar interesse por este tema do genoma, ou para quem quer aprofundar um pouco mais os conhecimentos nesta área, deixo duas sugestões de leitura.

Por: António Costa

Titulo: Genoma – Autobiografia de Uma Espécie em 23 Capítulos

Autor: Matt Ridley

Coleção: Ciência Aberta

Ano de edição: 2001

ISBN: 978-972-662-772-2

Titulo: O Gene Egoista

Autor: Richard Dawkins

Coleção: Ciência Aberta

Ano de edição: 1999

ISBN: 978-972-662-772-2

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