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No caminho

Bilhete Postal

Para lá há mato, alguns pinheiros e eucaliptos. Verde e castanho predominam. Para cá a paisagem é cinzenta e o cheiro a queimado faz perceber o desastre que ali andou. Passam uns meses e atravesso o mesmo caminho agora branco. Tudo branco. Não há tantos pinheiros nem eucaliptos, mas ainda há árvores de pé. São menos, mas são vaidosas e agora noivas. Passam os meses e o mesmo lugar é verde, com retalhos negros aqui e ali, peladas por entre frondosos arbustos e algumas árvores com ar de mães. A encosta enche-se de paus eretos que rompem do chão. Os filhos despontam e as mães observam. Volto a passar uns anos depois e está tudo como há vários anos, antes do fogo. Recordo o tempo das noivas e o momento dos arbustos meninos, depois adolescentes e hoje árvores. No espelho retrovisor – eu. Mais velho, com cabelos brancos agora. Estou todo branco. Percorro este caminho poucas vezes, tal como visito pouco as pessoas de que gosto. Ele tem a força de se rejuvenescer, eu não! É uma lição de mãe: não percas tanto tempo meu filho!

Por: Diogo Cabrita

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