Setenta por cento das habitações da Guarda apresentam, no seu interior, níveis médios de radão acima do valor máximo legalmente recomendado, que é de 400 becquerel por metro cúbico. A maioria (38 por cento) tem valores que rondam os mil e há até casos em que os números ultrapassam os três mil. Estes são os resultados da investigação realizada no âmbito do projecto “SOS Radão”, a cargo do departamento de Física da Universidade da Beira Interior (UBI), divulgados nas III Jornadas sobre Tecnologia e Saúde do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), na sexta-feira.
No total, entraram no estudo 185 casas – menos 55 do que o previsto inicialmente –, da cidade e aldeias periféricas, onde foram colocados pequenos aparelhos, detectores passivos deste gás radioactivo. Estes dosímetros, que permaneceram no interior das habitações entre 19 de Novembro e meados de Janeiro, revelaram que «os números estão bastante acima daquilo que a legislação permite», constatou a guardense Alina Louro, coordenadora do projecto e docente na Escola Secundária Afonso de Albuquerque. Para a investigadora, os resultados do estudo, que faz parte da sua tese de doutoramento, não constituem surpresa: «Estão de acordo com o que se esperava, tendo em conta as características geológicas do concelho da Guarda, a abundância de granitos», afirmou. Quanto aos casos em que os níveis ultrapassam os três mil becquerel por metro cúbico, Alina Louro não revelou números. «Há uma pequena percentagem, pouco significativa», disse apenas, adiando para os próximos dias 14 e 15 a apresentação «mais pormenorizada» dos resultados, altura em que decorrem na Guarda as “Jornadas do Radão”, organizadas pela UBI e LIP – Laboratório de Instrumentação Física Experimental de Partículas.
A docente fez também uma breve análise por zonas da cidade e do concelho e conclui que «para já, com o número de habitações analisadas, não é possível dizer que há umas com situações mais preocupantes do que outras porque existe uma grande dispersão de valores e até dentro do mesmo bairro e da mesma rua». «A dispersão é de tal ordem que inviabiliza a realização de um mapa de risco, o objectivo central do projecto, pelo menos da forma como tínhamos previsto inicialmente», acrescentou. No caso do Barracão, por exemplo, onde existiu exploração mineira, «há concentrações iguais ou inferiores a outras localidades», garantiu. Nesta aldeia, foram estudadas 14 casas e os valores médios rondam os mil becquerel por metro cúbico. «Se no Barracão haverá algum radão relativo aos resíduos da exploração mineira, noutros sítios será a rocha a condicionar os valores», analisou Alina Louro, prometendo também «uma análise mais detalhada» por zonas durante aquelas jornadas sobre a temática.
Entre as 185 casas estudadas, 25 são de pessoas a quem foi diagnosticado cancro nos últimos cinco anos, mas a investigação não encontrou relação entre a exposição ao gás radioactivo e o surgimento da doença. «Registámos até níveis baixos em casas de doentes», revelou Alina Louro. Esta responsável anunciou que projecto “SOS Radão” vai continuar, mas que, ao contrário do que foi anunciado, não irá contemplar a realização de análises a poços e minas que abastecem algumas das casas porque «já se percebeu que essas águas não estão a influenciar os níveis encontrados». A equipa pretende agora fazer análises de sangue aos moradores das casas que registam níveis elevados de radão, bem como ajudá-los a encontrar formas de reduzir a presença do gás no interior das suas habitações. A equipa está ainda a ponderar a realização de uma investigação do género durante o Verão, já que «no Inverno as casas estão mais tempo fechadas, sem serem tão arejadas, o que significa que estamos perante os níveis mais elevados possíveis», disse ainda.