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… ninguém leva a mal

Editorial

A neve é um dos produtos turístico por excelência da região. O manto branco é o mais reconhecido bilhete-postal que temos e um argumento de promoção regional de exceção.

Aliás, a Natureza é o que de melhor temos para “vender” – a Serra da Estrela, a paisagem, o ambiente, a fauna e a flora, os contrastes e as cores, o ar puro (para além do “ar da Guarda”), as nascentes, as ribeirais e os rios (o Douro, o Côa, o Mondego, o Zêzere…), as pedras e penhascos, os montes agrestes e os vales profundos e frescos; as amendoeiras em flor, as terras de fronteira e de Riba-Côa… Mas temos muito mais. Temos a gastronomia, os enchidos, as morcelas e farinheiras, as chouriças (a “chouriça de carne da Guarda” e as outras). E ainda há rebanhos de ovelhas e pastores; o queijo, amanteigado ou curado, e o requeijão. Ou o património arquitetónico, as aldeias históricas (ultimamente tão esquecidas), as tradições e os lugares, a história e as histórias, e a Cultura (da cultura popular às artes performativas, do Museu do Côa ao dos Descobrimentos em Belmonte, do Teatro Municipal da Guarda à Moagem – Cidade do Engenho e das Artes no Fundão…

São tantas as razões para “chamar” os forasteiros; são tantos os argumentos para atrair visitantes.

E até há o Carnaval!

Por aqui autêntico, genuíno, sem recurso ao samba ou às estrelas de novelas, de revista, humorado e de tradição popular – o de Gouveia, o de Vila Franca das Naves, o de Famalicão da Serra, o de Penamacor e o do “Galo”, na Guarda, ou até o do “Toro” em Ciudad Rodrigo (que sendo “do lado de lá”, também pode ser uma forma de atrair turistas para visitarem “o lado de cá”).

E há o frio. E este é um ano com assinalável comparência de neve. A afluência de pessoas por estes dias ao planalto central mostra o gosto e a apetência que tantos portugueses, de outras paragens, têm pela Serra e especialmente pelo contacto com a neve. Porém, a maioria dos visitantes (e já não só excursionistas) passam um dia na Serra – ou atravessam-na – e seguem viagem “antes que seja tarde”. Estranhamente, e apesar do muito investimento em promoção e da existência de várias infraestruturas turísticas, de equipamentos de qualidade e diversidade, os turistas continuam a passar pouco tempo na região, mesmo considerando que já há um bom número de dormidas.

Por isso, é ainda mais relevante que neste período haja atividades, animação e programas diversos para que quem vem, venha para ficar por mais de um dia.

O período de Carnaval afirmou-se na região como um tempo de diversão e de atração turística, com cartaz variado e de qualidade. As feiras do queijo, as visitas culturais, a folia ou animação carnavalesca são muitas as boas razões para ficar uns dias pela região.

É este cenário de dinâmica e diversidade cultural e económica que este ano esbarrou contra uma barreira mais difícil e amargurante que a das condições climatéricas adversas: o Governo não deu tolerância de ponto! Com a decisão governamental de o Carnaval ser um dia normal de trabalho prejudicou-se gravemente a economia, e ainda mais a economia regional que tem apostado e investido sobremaneira nesta quadra. Sem “feriado”, sem miniférias, sem “ponte” de Carnaval e com uma crise prolongada, foram milhares de pessoas, de foliões, que deixaram de visitar a região, de comprar queijo e enchidos nas feiras, de dormir nos hotéis e comer nos restaurantes… Pior que as condições meteorológicas adversas na região, que penalizaram os corsos carnavalescos (alguns até foram suspensos), foi haver menos gente a visitar a região. E sem gente não há economia.

Luis Baptista-Martins

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