Um grupo de 15 emigrante do Leste – cinco romenos e 10 ucranianos – que, no ano passado, frequentaram dois cursos no âmbito do programa “Formar, Integrar, Competir” (FIC) ainda não receberam as respectivas bolsas de formação. Em causa estão as acções “Formação em Português e Cidadania”, realizadas no NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda entre Janeiro e Abril (nível I) e Abril e Julho do ano passado (nível II) pela empresa Walker Consultores, do Porto.
Face ao número considerável de emigrantes de Leste radicados na região, a associação empresarial entendeu participar no projecto FIC. Pioneiro em Portugal, o programa pretendia reforçar a competitividade das empresas através da integração de trabalhadores provenientes daqueles países, identificando as suas competências técnico-profissionais e dotando-os de conhecimentos de língua e cidadania portuguesa. A acção foi promovida pela empresa Walker Consultores, do Porto, e recebeu apoios de fundos comunitários, integrando o Mapa de Boas Práticas de Acolhimento e Integração dos Imigrantes em Portugal e do Alto-Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, organismo tutelado pela Presidência do Conselho de Ministros. A frequência do curso era gratuita, sendo que os formandos tinham direito a subsídio de alimentação (3,70 euros) e de transporte (no valor máximo de 2,10 euros) por cada sessão, com a duração de pelo menos duas horas em horário pós-laboral.
Pelas suas contas, Ian Rus, um dos lesados, teria direito a receber 145 euros por cada curso, mas o romeno ainda não viu o dinheiro e tem cada vez menos esperança de o receber. Engenheiro de minas no seu país, Ian Rus já foi reclamar junto do Nerga, a última vez aconteceu em Dezembro. «Mas sempre me disseram que não tinham nada a ver com o assunto e que tinha de reclamar junto da empresa do Porto», adianta. Só que o imigrante, «à semelhança dos outros formandos», não tem dinheiro «para accionar um processo judicial e tentar reaver os valores em dívida», acrescenta. Cansado de esperar, Ian Rus, em Portugal desde 2001, admite que foi «burlado e enganado», sublinhando que precisa do dinheiro. «Parece pouco, mas para nós é muito importante», refere. O presidente do NERGA também não está contente com a passagem da Walker Consultores pela Guarda.
Pedro Tavares afirmou a O INTERIOR que o advogado da associação está a tratar do caso: «Não foram só os formandos a sair lesados da situação, a Walker também nos deve dinheiro», revela, sem referir valores. De resto, o dirigente assegura que o NERGA também está a zelar pelos interesses dos formandos. «Foi a associação que os contactou e sentimo-nos na obrigação ética de tratar do assunto», considera. Da Walker Consultores é que não houve mais notícias. «Foi uma burla, uma falência, não sei», lamenta o presidente do NERGA, para quem, «de tão comuns, as notícias de burlas já não são notícia em Portugal». Contudo, garante que «o assunto não vai ficar por aqui» e que o mais importante foi dado aos participantes, «a formação». Apesar das várias tentativas, O INTERIOR não conseguiu contactar os responsáveis da Walker Consultores cujos números de telefone estão actualmente desactivados. Mas este não é a única denúncia que envolve a empresa.
Em Março último, um grupo de formadores que deram formação nas regiões Norte e Centro acusaram o seu responsável, João Almeida Garrett, de gestão fraudulenta e de dívida de salários no valor de 50 mil euros. De resto, uma simples pesquisa na Internet pelo nome da empresa vai dar a vários sites de queixas onde são descritas alegadas situações de burla.
Rosa Ramos