No início da segunda guerra mundial, numa floresta na fronteira da Polónia com a Alemanha, dois soldados enfrentam-se. O Polaco está em desvantagem e o seu inimigo, alemão, prepara-se para o matar. No momento em que a baioneta vai descer no peito do polaco, ouve-se uma voz, vinda de cima da copa das árvores. “Pára!”, ordena a voz. “Não o mates!”. (Era Deus.) O Alemão obedece de imediato à voz de comando, mas pergunta: “Porquê, Senhor?” E Deus responde-lhe: “Esse homem não pode ser morto, destinei-o para ser Papa” O alemão vê-se esmagado pelas circunstâncias e pelo evidente conflito de deveres. É crente, mas é também alemão; quer obedecer a Deus, mas deve também obediência aos seus superiores terrenos, tal como ao partido Nazi, e estes mandaram-no matar polacos. Em agonia, pergunta: “E eu?”. Deus responde-lhe: “tu és a seguir”.
Acredito que Ratzinger não goste desta anedota. É associado aos Nazis, geralmente odiados em todo o mundo civilizado, e colocado num cenário em que poderia, como soldado nazi, ter morto Karol Woltija, futuro João Paulo II.
Há agora que recordar uma coisa: a segunda guerra mundial acabou há sessenta e três anos. Os seus sobreviventes, aqueles que podem legitimamente recordar-se dos acontecimentos, têm setenta anos de idade, e mais. Os que sobreviveram aos campos de extermínio, os que não chegaram a ser gaseados em Aushwitz-Birkenau, ou Belzec, ou Treblinka, estão hoje a morrer de velhice. São os últimos testemunhos vivos de uma das maiores infâmias da História. Mas há quem, não tendo estado lá, com eles, os desminta. O escritor iPrimo Levi, sobrevivente de Aushwitz, é segundo alguns um mentiroso. Um dos mais notórios negacionistas do Holocausto está David Irving, um desacreditado historiador inglês, que se lembrou de meter em Tribunal a autora de um livro que refutava os argumentos negacionistas, acusando-a de o difamar. No julgamento, provou-se que Irving mentia conscientemente nos seus escritos, que tinha simpatias nazis, que odiava os judeus e que as suas simpatias e os seus ódios determinavam o sentido dos seus escritos. Uma coisa, no mínimo, de pouco rigor científico.
Esse julgamento, sendo um rude golpe para os neo-nazis e entre estes para David Irving, que pagou uma fortuna em custas judiciais, não matou o movimento. É que há coisas que se valem mais da fé do que da razão e que, por isso, não admitem ser refutadas. Os islamitas radicais conhecem esse território e gostam também de negar o Holocausto. O presidente iraniano organizou em Teerão, não faz muito tempo, uma conferência internacional em que se deu voz aos que negam a morte organizada e industrial de seis milhões de judeus durante a segunda guerra mundial.
Há objectivos bem claros nestas ideias e são eles, hoje, apenas dois: uma tentativa de branqueamento do regime Nazi e uma tentativa de refutação do fundamento inicial da criação do estado de Israel. E assim regressamos aos tempos da segunda guerra mundial, em que o mais alto clérigo muçulmano de Jerusalém admirava Hitler e era por este elogiado. A diferença, agora, é que quem queira fazer um progrom, ao menos em Israel, terá de se haver com a IDF.
Por: António Ferreira