No ano passado a quebra da natalidade sentiu-se mais no distrito de Castelo Branco do que na Guarda, segundo os últimos dados do rastreio neonatal disponibilizados a O INTERIOR pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. De acordo com esses números (ver quadro), em 2012 nasceram menos 133 crianças em relação ao ano anterior em Castelo Branco, enquanto na Guarda a quebra foi bastante mais reduzida, menos 78 bebés.
Esta contabilidade é feita através do Programa Nacional de Diagnóstico Precoce, conhecido como o “teste do pezinho” e que consiste no rastreio a 25 doenças através de uma amostra de sangue colhida no pé da criança entre o seu terceiro e sexto dia de vida. Estes números não são referentes às maternidades dos respetivos hospitais – duas no distrito de Castelo Branco (Amato Lusitano e Centro Hospitalar da Cova da Beira) e uma na Guarda (Sousa Martins) – dado que estas colheitas são efetuadas maioritariamente nos centros de saúde. Mesmo assim, os registos podem ser considerados um retrato mais fidedigno da natalidade na Beira Interior, pois incluem os nascimentos nas unidades da região e fora dela. E o que se constata é que em Castelo Branco sempre houve mais “testes do pezinho” do que na Guarda entre 2008 e 2012. A maior diferença aconteceu em 2010 (409) e a menor em 2012 (262). No período em análise foram rastreados 6.144 bebés no distrito vizinho, enquanto na Guarda ficou-se pelos 4.479, ou seja menos 1.665 relativamente a Castelo Branco.
Neste lapso temporal, o número de registos tem vindo sempre a decrescer, passando de 1.295 em 2008 para 1.098 no ano passado em Castelo Branco, o que equivale a menos 197 bebés no espaço de cinco anos. Em 2012 foi também a primeira vez, de acordo com estes dados, que o total de colheitas no distrito albicastrense ficou abaixo dos 1.100 registos. Antes disso tinha sido sempre superior a 1.200. No caso da Guarda, a tendência é similar embora a diminuição tenha sido interrompida em 2011, ano que foram efetuados mais 67 colheitas comparativamente a 2010. No resto foi sempre a baixar, alcançando um pico de menos 78 crianças em 2012. No espaço de cinco anos, o distrito teve menos 138 bebés. O panorama também não é muito animador no resto do país, onde nasceram 90.026 crianças no ano passado, menos sete mil do que em 2011, segundo os mesmos dados do rastreio neonatal do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. O que é um mínimo histórico.
A diminuição acentuada da natalidade em Portugal já tinha sido registada em julho do ano passado, no relatório do Observatório das Famílias e das Políticas de Família. De resto, o documento chamava a atenção para a diminuição da dimensão média das famílias, o aumento das pessoas a viver sós e das famílias monoparentais e recompostas. Além disso, considerava-se também que este cenário também ficava a dever-se ao aumento da emigração de jovens casais e aos efeitos da crise económica e do desemprego.
Maternidades da Beira Interior mantêm-se
Um estudo da Direção-Geral de Saúde (DGS), divulgado em novembro de 2011, confirmava que houve menos nascimentos nas três maternidades da Beira Interior (Guarda, Covilhã e Castelo Branco) entre 2006 e 2010.
Segundo o documento, intitulado “Natalidade, Mortalidade infantil, fetal e perinatal 2006/2010”, a quebra foi maior no Hospital Sousa Martins, onde houve menos 212 nascimentos nesse período, enquanto nos dois serviços da Covilhã e Castelo Branco – que o documento não distingue – nasceram menos 119 crianças. Na Guarda, esta redução só foi quebrada em 2008, quando houve mais 57 nascimentos relativamente ao anterior. Contudo, foi em 2007 que se registou um pico de menos 127 crianças na maternidade do Sousa Martins. As duas unidades do distrito de Castelo Branco também tiveram menos nascimentos, mas numa escala menor, sendo que o ciclo de diminuição foi interrompido no ano passado. Em 2010 houve mais nove nascimentos comparativamente a 2009, enquanto na Guarda nasceram menos 76 crianças. No ano seguinte foram registados 670 partos na maternidade do Sousa Martins e cerca de 610 no Centro Hospitalar da Cova da Beira.
Em 2012, as primeiras estimativas, não oficiais, apontavam para 620 nascimentos na Guarda e de 554 na Covilhã. Números a que faltará acrescentar os partos realizados nos últimos cinco dias do ano. Recorde-se que o Ministério da Saúde chegou a ponderar a fusão dos três serviços de obstetrícia da Beira Interior por nenhum deles efetuar mais de 1.500 partos por ano, um indicador recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Contudo, na recente passagem pela Guarda, em dezembro, Paulo Macedo descartou essa hipótese para já, alegando que «as especificidades das três unidades hospitalares têm de ser acauteladas».
Luis Martins