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«Não será por culpa dos árbitros que deixará de haver competitividade»

José Miguel Quadrado Vicente, presidente do Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol da Guarda

P – A classificação dos árbitros vai ser um incentivo para estes terem mais cuidado na sua preparação?

R – Julgo que sim. Queremos que a classificação seja um motivo para estimular os árbitros a realizarem melhores actuações nos jogos e alcançarem a melhor classificação possível.

P – A não divulgação dos nomes dos árbitros vai ser uma das medidas para garantir menos polémica?

R – Exactamente. Não será bem menos polémica, mas também a evita. Mas o objectivo principal é evitar que os árbitros fiquem expostos a eventuais pressões em determinados jogos. O CA vai fazer tudo para que efeitos dessa natureza não se façam sentir e deitámos mão a essa medida, que será útil e vantajosa, beneficiando toda a gente. Queremos os árbitros tranquilos para fazerem o seu melhor nos jogos e não obedecerem a qualquer tipo de pressão.

P – A situação vivida na época transacta com Ramos Nunes não abona a favor da credibilidade dos árbitros do distrito. O que há que mudar?

R – Foi um caso pontual e isolado, que está a ser estudado pelas instâncias de Direito. Não podemos tomar a parte pelo todo e foi com esse intuito que respondi à pergunta anterior, pois queremos evitar que os árbitros sejam expostos a perigos que terminam na situação verificada com Ramos Nunes.

P – A corrupção é ou não uma prática comum entre os árbitros da região?

R – Não. Não está provada. Pode haver suspeitas de existência da corrupção, tanto nesta como em outras actividades. Mas da suspeita à produção da prova ainda vai uma grande distância. Isso não significa que não haverá. É natural uns acreditarem mais do que outros que possam existir veículos de corrupção entre clubes e os árbitros. Chegados à produção da prova, já toda a gente terá mais facilidades em obter dados esclarecedores e passíveis para concluirmos ou não que a corrupção realmente existe.

P – Quais são as grandes dificuldades com que este sector se debate?

R – Será, em primeiro lugar, arranjar equipas de arbitragem suficientes para darmos cumprimento à calendarização das provas organizadas pela AFG. Dificuldades decorrentes do exercício e da prática da arbitragem, são as que vão surgindo ao longo da época, com exibições menos conseguidas, exposições de clubes, que, por vezes, carecem de fundamentos, etc.. Mas este órgão tem dificuldades de outra natureza, porque a questão da arbitragem sempre foi, não diria polémica, mas sensível e trabalhosa, dando azo a que, por vezes, se criem na mesma polémicas. Temos que encarar a arbitragem com serenidade, os árbitros são agentes desportivos que exigem respeito, que também respeitam, fazem cumprir as regras e eles próprios têm regras que cumprirão. Daí que os problemas desportivos desemboquem sempre na figura do árbitro.

«O erro intencional raramente acontece, não se pode dizer que nunca acontece»

P – A maioria dos árbitros já tem alguma idade. Têm surgido muitos jovens interessados em seguir esta carreira?

R – Não temos árbitros com excesso de idade, temos apenas dois casos no limite. É realmente verdade que a maioria dos árbitros começa a atingir o limiar da sua participação, que no caso dos Distritais pode ir até aos 48 anos, mas felizmente o CA anterior abriu um curso de arbitragem e deixou-nos um conjunto de 28 candidatos aprovados. Se forem cativados, sensibilizados e se aderirem a esta causa, podemos ter na Guarda para a época em curso nove equipas de arbitragem novas, o que é realmente muito bom.

P – Acha que esses 28 árbitros estão aptos para apitar um jogo de futebol do Distrital?

R – Ainda não podem apitar jogos da primeira categoria, mas apenas da II Distrital. Vamos, no entanto, e sempre que possível, tentar integrá-los em equipas de arbitragem mais velhas, para ganharem experiência e maturidade. Este ano, o estatuto de árbitro estagiário não vai ser criado porque isso atrasaria um ano das carreiras. É um risco, porque eles ainda não estão dentro da prática da arbitragem, mas dada a carência neste sector, e por não haver disponibilidades de serem integrados noutras equipas, vão constituir eles próprios equipas de arbitragem e apitarem a segunda categoria.

P – Os árbitros estão preparados para a competitividade e matreirice reconhecida ao Distrital da Guarda?

R – Estão. Posso responder à vontade, e até com algum orgulho, que os nossos árbitros acompanharam a evolução das provas. O rigor entre as equipas e a maior competitividade têm sido acompanhados, e por vezes até ultrapassados, pelos nossos árbitros, que estão perfeitamente integrados e habilitados para a actual competitividade dos nossos campeonatos. Não será por culpa das equipas de arbitragem que deixará de haver competitividade, que os jogos terão menos interesse e haverá cada vez menos público. Este aspecto tem a ver principalmente com as equipas.

P – Acha que também a mentalidade de jogadores e dirigentes tem que sofrer uma mudança?

R – Sim. Acho que estão bastante sensibilizados para a causa do futebol e sabem compreender os erros. Dirigentes, árbitros e jogadores têm que entender e saber distinguir o erro intencional do erro involuntário. O primeiro raramente acontece, mas não se pode dizer que nunca acontece. O segundo acontece de vez em quando, mais do que seria desejável.

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