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«Não queremos ser mais uns a contribuir para a “guerra” do Carnaval»

António Oliveira, presidente da direcção da AENEBEIRA

P – Quais as expectativas para mais uma edição da Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira?

R – Face ao sucesso que este evento tem tido de ano para ano, sempre em crescendo, as expectativas são naturalmente as de superarmos em visitantes aquilo que se verificou na última edição, por onde passaram cerca de 25 mil pessoas.

P – O facto de estarmos em crise o ano passado não vos criou dificuldades. Para este ano continua a não se notar?

R – Não. Vamos ter os operadores possíveis de acomodar no pavilhão multiusos. Vamos ter cerca de 90 expositores, os mesmos números do ano passado, distribuídos por 105 stands. Inclusivamente alguns desses stands, nomeadamente os de artesanato têm apenas uma frente de dois metros e não de três para rentabilizarmos o espaço e podermos acomodar mais expositores. Deste modo, apesar dos tempos de crise que vivemos, contamos que a feira continue a ser um sucesso, à semelhança daquilo que se verificou nos últimos anos. Este é um evento que realizamos com muito empenho porque o sector agro-alimentar é importante na região e mesmo no concelho de Trancoso. O concelho tem neste momento a laborar seis salsicharias artesanais, duas salsicharias industriais – classe dois –, 15 queijarias artesanais e duas unidades industriais de lacticínios. Portanto, trata-se de um sector que tem algum peso na economia não só no concelho de Trancoso, mas também noutros da região.

P – Esta feira também veio ajudar a dar uma nova dinâmica a esse sector nesta região?

R – Exactamente. Esta feira visa fundamentalmente promover os produtos endógenos da região, nomeadamente os queijos, os vinhos, os enchidos e os fumados que têm uma importância significativa na região e que havia necessidade de promover. A comunicação social sabe isso tão bem ou melhor que eu de que, por exemplo, em Trás-os-Montes há um esforço tremendo para promover este sector. Há vários eventos que se realizam para promover os produtos regionais de Trás-os-Montes e aqui nas Beiras, nesta região entre o Douro e a Serra da Estrela, havia a necessidade de fazer alguma coisa para promover e divulgar produtos regionais que se vendem um pouco por todo o país. Nós temos aqui unidades industriais que têm hoje dimensão nacional. O nosso objectivo fundamental é promover os produtos endógenos da região.

P – Referiu o impacto no concelho de Trancoso. Até que ponto é que a região também ganha com uma feira destas?

R – É preciso ter em atenção que nós estamos aqui muito bem localizados para receber um evento com estas características porque estamos num ponto que é central. Este sector dos enchidos e dos fumados tem uma forte tradição nesta linha que vai até Tarouca. Têm também em Armamar, com várias unidades, e também estamos próximos do Douro. Em suma, estamos aqui numa região que é óptima para concentrarmos aqui a Serra da Estrela e a região do Douro.

P- Quais as novidades desta edição da Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira?

R- Em relação a edições anteriores, mantém-se praticamente o mesmo figurino. Em receita de sucesso não vale a pena mexer e da forma como as coisas têm corrido, não vamos ter nenhuma alteração no “lay out” da feira. As últimas alterações verificaram-se o ano passado nomeadamente com a introdução de dois fins-de-semana.

P – Correu bem essa aposta?

R – Sim, de tal forma que mantemos essa dinâmica ao longo de dois fins-de-semana. Vamos naturalmente fazer um esforço na promoção a nível nacional da feira com a introdução de publicidade em rádios nacionais e também nas caixas multibanco, pelo menos, na região Centro. Vamos fazer um esforço importante no sentido de atrair, até porque esta feira não tem uma dimensão local que se destine apenas ao público local. Naturalmente que o público local também é importante e também participa nesta feira mas temos conseguido atrair aqui consumidores de outras regiões do país e isso é que é fundamental.

P – O fumeiro é essencialmente um produto de Inverno. Este ano a Feira realiza-se um pouco antes do que era costume. A que se deve esta alteração de calendário?

R – Este é já o terceiro ano consecutivo em que fazemos a feira nesta data, com uma pequena diferença. Para já, não queremos ser mais uns a contribuir para a “guerra” do Carnaval. São tantos eventos realizados na região na semana que antecede o Carnaval que nós não queremos ser mais um contributo para aquilo que já muita gente classificou como sendo até de certo modo negativo para a região porque no fim de contas concentram-se várias iniciativas nesse fim-de-semana. Desse modo, temos vindo a fazer a feira duas semanas depois do Carnaval. Ora como a data em que o Carnaval se realiza é móvel, naturalmente que também a feira acompanha isso. Acontece sempre no segundo fim-de-semana após o fim-de-semana anterior ao Carnaval.

P – Esta feira realiza-se desde 2004. Pode dizer-se que é um evento que já está consolidado a nível regional?

R – Está claramente consolidado como um evento de dimensão regional, tendo até alguma notoriedade que ultrapassa a própria região.

P – O concelho de Trancoso também tem no turismo um desiderato importante. Este tipo de iniciativa é também uma aposta de colaboração com o turismo?

R – Claramente. Aliás, em simultâneo com a Feira decorre simultaneamente um festival gastronómico para promover em Trancoso e que conta com a adesão de 10 restaurantes.

P – Quais são as ambições para esse fim-de-semana gastronómico que se vai realizar pelo terceiro ano?

R – Face ao sucesso dos dois anos anteriores, as expectativas são as melhores. É uma iniciativa que tem contribuído para dinamizar o sector da restauração em Trancoso e divulgar a gastronomia da região. Este ano tivemos até mais aderentes. O ano passado tivemos oito restaurantes a participar e este ano temos 10, o que significa que praticamente toda a restauração aderiu a esta iniciativa e isso é sinal que tem sido positiva e que tem trazido mais pessoas a frequentarem os restaurantes locais.

P – Uma das dimensões de Trancoso tem a ver com as suas feiras. O ano passado falou na hipótese de criar outro modelo para a Feira de Santa Luzia, que pudesse conferir outra vida a esse certame que anualmente decorre no início de Dezembro. Em que ponto está essa possibilidade?

R – Essa ideia mantém-se mas ainda não foi posto nada em marcha. A Feira de Santa Luzia é outra feira anual e que naturalmente em conjunto com a Câmara de Trancoso teremos de reflectir sobre como dinamizar e dar-lhe um “empurrão” para cima porque é uma feira também de forte tradição local.

P – Para a economia local, as feiras são quase a essência do ano?

R – Como se sabe, a secular tradição de Trancoso na actividade comercial tem muito a ver com a dinâmica das feiras. A primeira feira aqui criada foi a de São Bartolomeu em 1273 e depois os mercados inicialmente mensais e depois quinzenais e semanais, desde D. João I revelam bem que há aqui uma forte tradição comercial muito ligada à existência de feiras. Isto tem naturalmente também a ver com o facto de Trancoso a partir do século XII ter tido uma importante comunidade judaica que seguramente estará na origem desta tradição.

P- Quais os produtos em concreto que vão estar representados na feira deste ano?

R – Vão estar representados os enchidos e fumados, queijo da região demarcada da Serra da Estrela e também sem o ser. Vamos ter ainda produtores de vinho, de mel, de azeite, de doces regionais, compotas, de pão da região e uma mostra de artesanato da região.

P – Qual é o investimento global da Feira?

R – O investimento deste ano na Feira está um pouco mais baixo do que no ano passado. Em tempos de crise há que baixar os custos e daí que o orçamento deste ano ronde os 30 mil euros, enquanto que no ano passado o orçamento rondou os 40 mil. É uma baixa considerável, mas vamos fazer exactamente a mesma coisa com menos dinheiro.

A Feira em números

–» VII Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira

–» Local: Pavilhão Multiusos de Trancoso

–» Datas: 26, 27 e 28 de Fevereiro e 6 e 7 de Março

–» 90 expositores, distribuídos por 105 stands

–» Produtos representados: Queijos, vinhos, enchidos, fumados, vinho, mel, azeite, doces regionais, compotas, pão da região e uma mostra de artesanato.

–» Primeiro ano em que se realizou: 2004

–» Organização: AENEBEIRA – Associação Empresarial do Nordeste da Beira

–» Paralelamente decorre ainda o o 3º Festival gastronómico, denominado TRANCOSO – Gastronomia com tradição

«Não queremos ser mais uns a contribuir para
        a “guerra” do Carnaval»

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