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Não querem saber

Bilhete Postal

O fosso do raciocínio entre a geração online e a geração das lojas. Há uma vala abrupta, uma cratera que corresponde ao fim de uma época com a qual teremos de perceber um mundo próximo. A geração online compra usando aplicações informáticas, encomenda confiante no modelo bancário Internet, é mecenas por “crowfunding”, viaja muito no Google map. Como convivem os online? Convivem com modelos coletivos de desporto, com festas marcadas por email, com corridas estruturadas em blogues, convívios marcados por sms. Os online conhecem-se e amam-se após teclar na net. Vivem vendendo um produto – eles e suas construções, eles e os seus artesanatos. Os online mostram-se em arenas da música, festivais de verão. Não pagam impostos sobre a maior parte das transações. A minha geração gosta de discos, livros, ir aos estádios. A minha geração não significa idade pois os online podem ser mais velhos que eu. Como a ideia de esquerda e direita, o mundo mudou e o conceito geracional deve ser reinventado. A esquerda online defende os caracóis, abomina touradas, vai buscar gatos aos abrigos, usa PPL para ajudar a esterilizar as gatas da rua. A direita online é preocupada com as eleições, com a TAP, com a EDP e seus donos. Para esta nova gente da “esquerda caracol” o mundo é absolutamente dinâmico, Enquanto a eletricidade alimentar seus instrumentos de vida eles não se preocupam com os poderes e os partidos e as decisões de Bruxelas. Por estas razões não votam, não querem saber! Eles jogam, fazem negócios e criam negócios longe do sistema fiscal e das pessoas que controlam as vidas comuns. A geração online, hoje ainda minoritária, compra bilhete na internet, percebe as máquinas de controlo dos movimentos, aceita a biometria, o código de barras, as câmaras em toda a parte. Expor-se num vídeo, criar selfies é o normal. Sabem que tanta informação cria um mundo tão invisível como a realidade dos outros. Há tanta coisa online que ser viral é um vislumbre, é um momento pequeno. Para o sucesso ser viral é fantástico. Eu e a minha circunstância torno-me “eu no Mundo”. Por tudo isto há uma realidade do agora que subverte o que pensávamos do tempo. Pode ser viral hoje, algo que tem trinta anos. Pode ser viral o que se passou há segundos. O tempo mudou. Depois vai mudar o conceito de compra. Virá a mudança de noção de Estado. Porque teremos um Estado tão complexo e transversal num mundo à distancia de clics e de botões de on e off? A minha relação online termina com a tecla off. Esta gente tem que ser reinterpretada porque esta malta não quer saber de nada do que se passa na geração da esquerda e direita clássicas. Os online dividem-se em esquerda caracol e direita interventiva. Os segundos são no fundo a velha esquerda, os que vão a manifestações, os que colocam online petições. Essa gente aborrecida está a conspurcar o espaço da esquerda caracol, da defesa da mais mínima minoria, da luta por um eu tão egoísta que idealmente não quer sequer comer. Nem sei se me faço entender mas esta é a questão moderna em que temos de nos envolver, não para mudar, mas para perceber o que aí vem! Eles não querem saber, mas vão ser tantos que o mundo vai ser como eles querem. As touradas desaparecem porque eles não irão lá. As lagostas deixarão de ser escaldadas porque eles as não comerão. O mundo mudou!

Por: Diogo Cabrita

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