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Não haverá novos padres nos próximos anos

A falta de jovens, o celibato e a própria história da diocese guardense são alguns dos motivos apontados

A perspectiva a que estávamos habituados de um padre por paróquia «já acabou há muito tempo», recorda o pároco António Maria, que exerce a função há quase 20 anos. Mas a história também ajuda a explicar. A Diocese da Guarda passou por um período de doze anos sem sacerdotes e só a partir de 1979 voltou a ter ordenações, o que se reflecte agora: «Há uma faixa etária de doze anos em que não temos padres», constata António Maria.

Em termos vocacionais acredita que Deus «continua a chamar e as pessoas continuam a responder, mas agora nas comunidades, há muitas escolas sem crianças», frisa o presbítero. Por isso, «é normal» que haja menos candidatos. «Não há crise de vocação, há menos escolhas», conclui. Recorda-se do tempo em que foi pároco na freguesia de São Vicente, na Guarda, há já alguns anos, «onde havia mais catecistas do que há crianças agora nas aldeias». Nestas comunidades do interior «estamos a fazer quase uma religião de manutenção», ressalva o pároco, pois a população idosa que não se converteu, também já não se converte. E a perspectiva para os próximos anos «é que não haverá mais padres», diz, desconsolado. Claro que se pode fazer uma redistribuição mais equitativa do clero, «mas é um processo longo e complicado», sublinha António Maria. Para este sacerdote, o celibato não é o único entrave, «é mais um motivo cultural».

As catorze paróquias que detém são asseguradas por uma equipa de três padres e um diácono. «Juridicamente somos todos párocos, mas na prática cada um olha mais por um grupo de localidades», explica. Independentemente se o padre pode ou não celebrar a eucaristia, os leigos devem ter sempre uma quota-parte da celebração. «Actualmente, em termos dominicais, é impraticável que nós celebremos mais de três missas por dia e por isso há paróquias que ficam de fora», justifica o padre António Maria. Assim sendo, é preciso recorrer a leigos que orientem a celebração, o problema é que as pessoas foram habituadas a ter padres ao domingo e, às vezes, «não vêm a mudança com bons olhos, sendo encarada por muitos paroquianos como um grande dissabor», conta o pároco do Rochoso. Nas preferências para fazer a celebração estão os homens, mas na prática até há mais mulheres, pois «sempre estiveram mais ligadas à religiosidade», justifica. Quase todas as comunidades têm um ou mais ministros extraordinários, que asseguram a celebração da palavra. «Há é poucos homens», realça o sacerdote, dando como exemplo a Castanheira, com cinco mulheres, ou Casal de Cinza e Vila Garcia com duas, entre outras paróquias.

Patrícia Correia

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