Arquivo

«Não há nenhuma máquina que consiga a qualidade da faca como o próprio artista»

As facas do Verdugal continuam a ter muita procura, apesar do negócio já ter conhecido melhores dias

A garantia de qualidade é a sua imagem de marca. As facas do Verdugal, pequena aldeia do concelho da Guarda, são conhecidas um pouco por todo o país e também no estrangeiro, têm bastantes admiradores. Aberta desde 1948, a Cutelaria Ernesto Pires & Filhos vai resistindo à crise e os descendentes do fundador mostram-se moderadamente otimistas para o futuro, apesar de o negócio já ter conhecido melhores dias.

José Martins Pires aprendeu «a arte», que já vem do tempo do avô, ainda criança e desde 1959, quando tinha 10 anos, que trabalha a tempo inteiro na Cutelaria, onde, apesar da introdução de alguma maquinaria, impera a «mão-de-obra manual». Atualmente, a empresa fabrica facas, foices e navalhas e é «quase tudo feito aqui» porque «não há nenhuma máquina, por mais sofisticada que seja, que consiga a qualidade de uma faca como o próprio artista que sabe o que está a fazer». O filho mais velho do fundador da Cutelaria e um dos três sócios, juntamente com os seus dois irmãos que também trabalham na empresa, não tem dúvidas em afirmar que o que diferencia as suas facas das restantes é a «qualidade», pois «quem nasceu na arte, como nós, tem a obrigação de fazer melhor», assegurando que as suas, «depois de postas no mercado, fazem toda a diferença». O empresário lamenta que atualmente haja «muita gente que não olha à qualidade do artigo, mas ao preço», enquanto há uns anos atrás as pessoas queriam especificamente uma faca “E. Pires Inox Verdugal” e, «por vezes, até os estrangeiros vinham aqui e traziam a marca escrita num papel».

A Cutelaria exporta diretamente para França, Espanha e Austrália e vende «mais para o mercado português», embora haja clientes armazenistas que depois as colocam noutros países. José Martins Pires assume que o objetivo era «conseguir chegar a mais países, porque cá já não há lugar para mais». E revela: «Estamos com dificuldades porque os bons clientes estão a comprar muito pouco em comparação com o que compravam», realçando que a empresa continua a produzir mas sente mais dificuldades em colocar o material, embora a procura continue a ser «muita». De resto, desde que começaram a fabricar a navalha com sistema de bloqueio na lâmina «mais conhecidos ficámos» e , em consequência, chegam mais pedidos de facas, o que é uma «grande ajuda». O empresário garante que o negócio «se ressentiu bastante em todos os aspetos, não só na venda, como também na entrada de dinheiro», mas outra situação que «não ajuda ao negócio» é a «enchente de produtos que vêm de fora», exemplificando que, «apesar de ainda se venderem muitas foices, há muitas a vir do Brasil e da China a 30 ou 40 cêntimos cada e não dá para concorrermos com esses preços».

Concorrência à parte, a atual conjuntura económica veio colocar um “travão” na ambição de expansão da empresa, que tem atualmente seis trabalhadores, incluindo os três sócios: «O nosso objetivo era meter mais gente porque o nosso material é bastante procurado, só que a crise é inacreditável e há pouca procura. Agora as pessoas remedeiam-se e não compram mais», constata José Martins Pires. Por isso, o filho do fundador da afamada Cutelaria assegura que não está «otimista» em relação ao futuro porque, «por vezes, apresentam-se clientes a querer comprar em quantidade, mas depois chega-se à hora da verdade e voltam atrás». Na sua opinião, atualmente «não se consegue fazer um bom negócio», embora afirme que «pessimistas também não devemos ser porque não se vai a lado nenhum».

Ricardo Cordeiro Manuel, José e António aprenderam a “arte” de fazer facas ainda em criança

Sobre o autor

Leave a Reply