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«Não há aqui nenhuma filosofia tipo manifesto artístico, há é vontade de abrirmos o “leque”»

Cara a Cara – Hugo Branco

P – Como tem funcionado a “vertente laboral” do atelier?

R – Ainda não estamos a atuar nas nossas áreas, já que essa vertente do espaço não começou propriamente. Muito do nosso tempo é gasto a coordenar e organizar o que temos aqui e depois não dá para tudo. No entanto, agora estamos a pensar arrancar com workshops, em que cada um dá “aulas” na sua área. Isso seria o primeiro passo, até porque temos visto interesse dos alunos do secundário, que andam curiosos e querem aprender, seja graffiti ou outras áreas como pintura e escultura. Queremos criar quatro ou cinco disciplinas diferentes e seria um projeto que faríamos mais por prazer. Já em termos de trabalho, por exemplo, o Daniel Andrade tem muito jeito para instalações e o Bruno Miguel está a trabalhar no restauro de uma igreja, por isso nem está tanto aqui. O último serviço que nos encomendaram tem a ver com a Sala do Conto da BMEL, que está em execução, e vai desde a pintura à instalação. Infelizmente ou não, ainda não tivemos oportunidade de atuar mesmo na nossa área porque estamos dedicados ao projeto global do “33”, em que damos um contributo à nossa maneira e isto está a ter “pernas para andar”. Mas isso é um desgaste, pois fazer uma exposição por mês dá muito trabalho, por exemplo. E estamos a trabalhar, de certa forma, na área para a qual nos preparámos.

P – Como vê a receção do projeto? Superou as expetativas?

R – Superou e de que maneira… Começámos um pouco às “cegas”, porque era algo que havia noutros sítios, mas aqui não conhecíamos, então não sabíamos como ia ser a adesão das pessoas. Os nossos amigos já se sabe que aparecem sempre, mas na nossa última inauguração já tivemos pessoas de um outro público, o que prova que estamos a chegar a um grupo mais geral. Há iniciativas mais ou menos regulares e as pessoas vêm uma vez e voltam na seguinte, e vão-se habituando.

P – Que iniciativas tiveram mais procura até à data?

R – Principalmente as duas que temos vindo a fazer mensalmente, isto é, as exposições e o ciclo de cinema. O primeiro ciclo foi uma experiência que correu bem, teve uma boa adesão e quase todos os domingos tínhamos aí uma “maltinha”. Como correu bem, montámos uma pequena sala direcionada para essa atividade. Depois, paralelamente, temos pessoas que querem trabalhar connosco, como o Rui Campos, que vem aqui dar algumas tertúlias de fotografia… E também estamos a “jogar” com outros artistas com potencial que andam por aí.

P – Que projetos vão organizar a curto-médio prazo?

R – Temos uma exposição já no dia 16, relacionada com os pastores e que se chama “Ainda há Pastores”, baseada num filme que também vamos passar. Vai estar a Loja da Guarda com alguns produtos, no âmbito da mesma iniciativa. A temática anda à volta da pastorícia, do bucólico, toda essa paisagem que carateriza a nossa região. Depois há as exposições mensais, sendo que já temos várias planeadas.

P – Que outras atividades fazem parte dos horizontes do atelier 33?

R – Por um lado, os workshops. Depois nas inaugurações vamos ter de abrir o leque a outras experiências, como convidar músicos que já conhecemos, que estão a iniciar-se nesse campo, e dar-lhes uma certa voz. Temos acolhido gente de pintura mas procuramos coisas mais variadas, como performance ou teatro. Queremos organizar sessões de contadores de histórias… Nós ideias temos, mas os recursos humanos é que não sabemos bem onde estão, até porque não temos capacidade de suportar alguns custos e temos funcionado na base da inter-ajuda e amizade. Estamos abertos a ideias de outras pessoas e com o tempo vamos ver…

P – Em que é que o atelier marca (ou pode vir a marcar) diferença do que já existe na cidade?

R – Penso que é notório que se trata de algo completamente alternativo, pela maneira com organizamos as exposições, pois é fora do comum. Há outros espaços, como o TMG, que tem uma galeria e espetáculos a decorrer, só que aqui as coisas são feitas de forma mais informal. Não há um pendor institucional, por assim dizer. Temos agora uma exposição do Marco Fernandes, que foi nosso colega no secundário… Há muitos artistas e pessoas que sabem, se calhar até mais do que as que têm o dito reconhecimento. O Marco, por exemplo, tem um jeito imenso e nunca expôs, tinha os trabalhos em casa. Isto também é importante, o facto de podermos dar oportunidade a pessoas que talvez não a tivessem de outra forma. Queremos ir por caminhos que não são os “normais”, temos uma leitura própria, a casa está sempre em metamorfose…

Só essa liberdade de podermos ter aqui coisas, desde “video mapping”, projeções, coisas mais “gore”… Não temos regras nenhumas, estamos sempre recetivos e temos sempre a preocupação de ter um projeto com todos os que se quiserem juntar a nós. Somos o veículo para lhes dar voz. Não há aqui nenhuma filosofia tipo manifesto artístico, há é uma vontade de abrirmos o leque, pois a Guarda é muito fechada e precisa disso também.

P – Qual a importância de um espaço como este no interior do país?

R – O mais importante é servir de alavanca para que o público se consciencialize e perceba que é necessário haver este tipo de espaços para trocar ideias, partilhar conhecimentos… Esse tipo de interações cria sempre um ser humano mais rico. De certa forma, também podemos ser uma boa influência e já senti isso. Os estudantes do 12º ano olham para nós como uma influência positiva e vêm-nos como exemplo a seguir. E a nível do interior, se oportunidades destas se criarem, ganhamos todos. É importante a partilha da cultura, cada um tem sempre algo para ensinar ao outro… E aqui notamos isso nas conversas que têm com o pintor ou o fotógrafo, de uma forma amigável e informal. É importante e faz com que se vá para casa mais rico.

Hugo Branco

«Não há aqui nenhuma filosofia tipo
        manifesto artístico, há é vontade de abrirmos o “leque”»

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