Nos tempos que correm, «não é o poeta mais necessário do que nunca?». João Rasteiro fez a pergunta e deu a resposta na cerimónia de entrega do Prémio Literário Manuel António Pina, na Guarda: «A utilidade da poesia continua cada vez mais presente, pois permite reinventar o mundo e é a esperança», disse na última segunda-feira, Dia Mundial da Poesia.
O vencedor da primeira edição deste galardão instituído pela Câmara da Guarda disse-se honrado pela distinção, tendo destacado o facto do júri ter escolhido «um texto pelo texto e um poeta de fora do centro da poesia e da cultura portuguesa». João Rasteiro, de 45 anos, concorreu sob o pseudónimo de João Cenáculo com “A Divina Pestilência”, uma obra que, segundo o autor, sublinha que «a poesia deverá ser cada vez mais uma pestilência, no sentido de provocar as pessoas». O técnico superior no departamento de Cultura da Câmara de Coimbra disse ainda acreditar que o prémio vai contribuir para divulgar a sua escrita. Já Manuel António Pina considerou que “A Divina Pestilência” «prestigia» o galardão que tem o seu nome, mas lamentou que haja, em Portugal, «muita poesia e poucos leitores» e ironizou: «Até já pensei juntar os 300 compradores da minha poesia num jantar».
Por sua vez, Manuel Rosa, da Assírio & Alvim, que editou a obra vencedora, confidenciou que a editora tem fugido «de incumbências como esta», mas reconheceu que a experiência acabou por ser gratificante. Quanto a João Rasteiro, «auguramos-lhe uma excelente carreira como poeta», declarou. O prémio, de 2.500 euros, foi entregue na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço. O júri da primeira edição foi formado, entre outros, por Manuel António Pina, Manuel Rosa (Editora Assírio e Alvim), José Manuel Vasconcelos (Associação Portuguesa de Escritores), Américo Rodrigues (escritor e poeta) e Virgílio Bento (vice-presidente da Câmara da Guarda). A próxima irá premiar obras inéditas de literatura infanto-juvenil.