É um desabafo. O meu amigo Ivar Corceiro tem um blogue intitulado “Não Compreendo as Mulheres”. E tem as suas razões, como explica naquele sítio. Sobre as mulheres, entendo o básico. Mas no caso dos eleitores, nem isso. Quando um eleitor vota num corrupto, porque rouba mas faz obra, estará a pensar exatamente em quê? Num multiusos que não usará? Num momento comemorativo à passagem da Virgem Maria por Vila Nova da Rabona?
Confesso que não entendo. Quando a maioria dos políticos eleitos não são corruptos materiais, são indigentes factuais. A quantidade de gente sem profissão que vive há décadas das mordomias partidárias daria para forrar com fotografias tipo passe o Mosteiro dos Jerónimos.
Depois enchem a boca com as piratisses que fizeram antes do 25 de Abril, período das suas adolescências. Acredite o estimável leitor que fui muito mais ativista na minha adolescência que essas destacáveis personalidades, e nesse tempo já vivíamos em bancarrota. (Como o FMI estava instalado em Portugal, não sei se conta como período democrático. Não deve contar.)
O Governo recém-empossado aumentou a despesa pública. Repôs os salários na função pública e atirou com amendoins para os pobres. Em breve, teremos a “troika” a refinanciar a dívida, tal como na Grécia. É a “alternativa à austeridade”. Mas o eleitor não se importa. É normal pagar o IVA à taxa de 23%, quando a taxa média na Europa ronda os 16%.
Com uma dívida pública superior a 100% do PIB é normal que o Orçamento do Estado preveja, à partida, um défice de 3%. Como se fossemos um país rico.
Segundo o INE, o indicador de confiança dos portugueses está em queda há três meses, depois de crescer 4 p.p. nos trimestres anteriores. O novo ano promete ser memorável. Pelo menos por aquilo que depende dos governantes.
Por: Frederico Lucas