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Música para uma vida inteira!

DESTINOS

É chegado o momento de escolher uma profissão. E agora? Os pais pressionam: “vai para uma coisa com empregabilidade”. E têm uma certa razão, pois, fazer escolhas apaixonadas que vão condicionar toda uma vida com desemprego, baixo salário, instabilidade, não é coisa que se recomende a um filho… Mas o ser humano, esse ser pensante, pleno de emoções e contradições, não obedece sempre à razão, e pesam, por vezes, outros fatores, no momento de decidir: “quero fazer exatamente ISTO”. Os alunos de articulado desta escola – articulado para quem não sabe é o regime de frequência que permite frequentar parte do currículo artístico no Conservatório de Música, e a restante parte na ESAAG – esses alunos, dizia eu, há muito perceberam as dificuldades em conjugar horários, interesses, motivações, mas sobretudo, perceberam como é difícil que os seus amigos e os seus professores (e por vezes até os pais), entendam o que significa a sua ligação à música. E a sua ligação à música é algo enraizado, profundo. É amor, mesmo. E um amor é sempre difícil de explicar…

As maiores dificuldades prendem-se com o tempo de estudo de um instrumento. Os alunos de 11º ano, todos os conhecem: o Diogo, a Lara, a Noémia, a Filipa e a Irene, têm uma dedicação muito grande ao Conservatório. Por vezes temos quase que os “enxotar” para fora das salas. E esse seu amor à música tem a ver com os desafios que se lhes colocam, ao ultrapassar uma dificuldade técnica no seu instrumento, ao trabalhar, sabem que, mais adiante, receberão as devidas palmas do público. Porque trabalharam para isso, porque… se superaram.

Escolher a música como futuro, longe de ser uma decisão irresponsável, é precisamente aquilo que fará com que estes alunos tenham hipótese de vir a ter uma carreira promissora. Até porque há imensas variáveis no seu destino: podem fazer um Erasmus, ir para outro país estudar, tocar em orquestras nacionais ou estrangeiras, estudar com músicos prestigiados internacionalmente, podem ganhar concursos, podem fazer ensembles com os muitos colegas que vão conhecer no ensino superior, e poderão sempre lecionar, e fazer concertos. Terão, naturalmente, de fazer escolhas. Provavelmente não poderão estar sempre com a família, porque terão ensaios, se calhar não podem beber bebidas frias porque danificam a voz, provavelmente não poderão alinhar em noitadas loucas, porque têm concerto no dia seguinte, e o músico precisa do seu corpo todo a funcionar em pleno.

Mas saberão que os seus sacrifícios serão plenamente compensados. Porque fazer Arte não é para todos: apenas para aqueles que sofrem um pouco para a fazer nascer, quer seja através do arco, dos dedos, ou das cordas vocais…

Helena Neves

Profª Canto Conservatório de Música

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