Na sua primeira visita oficial, a nova ministra da Cultura, Maria João Bustorff, foi a Vila Nova de Foz Côa garantir que a construção do Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa é uma «prioridade» do actual Governo. A governante esteve na semana passada em Foz Côa a propósito da inauguração da exposição dos projectos que arrecadaram os cinco primeiros lugares no concurso público internacional para a concepção do futuro museu. Na ocasião, o autarca Sotero Ribeiro insistiu na necessidade deste projecto-âncora para o desenvolvimento da região ter de ser construído dentro do actual Quadro Comunitário, ou seja, até finais de 2007.
A «qualidade e inteligência» demonstrada pelo projecto vencedor, da autoria de dois jovens arquitectos desconhecidos, Pedro Tiago Pimentel e Camilo Rebelo, do Porto, foram uma «grande surpresa» para Maria João Bustorff. Para além de terem elaborado um projecto «inteligente e integrado na natureza envolvente, usando materiais da própria da região» como o xisto, conseguiram algo que era «fundamental»: baixar os custos previstos de 50 milhões para 15 milhões de euros, frisou. A ministra da Cultura assegurou ainda que a instalação do Museu do Côa, estrutura que «certamente será muito visitada por portugueses e estrangeiros», é uma «prioridade» para o novo Governo liderado por Santana Lopes. Segundo Maria João Bustorff, o projecto do Museu do Côa «irá estimular outra prioridade do Governo» que passa pelo «desenvolvimento do turismo cultural», uma vez que «se queremos apenas turistas para virem à praia, há outros locais mais baratos», salientou. Na sua intervenção, afirmou também acreditar ser possível ter o novo museu concluído até ao final de 2007, altura em que termina o prazo para a utilização de verbas do III Quadro Comunitário de Apoio (QCA).
Uma “meta” que Sotero Ribeiro, presidente da Câmara de Foz Côa, voltou a apontar como data de conclusão para a construção do futuro museu, que vai nascer na encosta sobranceira à foz do rio Côa, num local com fantásticas panorâmicas: «Terá que ser construído dentro deste Quadro Comunitário, o que significa até ao final do ano de 2007. Apesar de algum atraso que possa ter havido, neste momento é seguro que isso possa acontecer, tão só o Governo continue a dar passos significativos para que nada atrase este projecto», alertou. De resto, o autarca atribuiu um significado político «muito profundo» à primeira visita oficial da ministra, já que considera ser o sinal que este Governo «dará continuidade ao projecto do museu que nos últimos anos conheceu várias vicissitudes», considerou. Relembrando que Foz Côa é um concelho «muitíssimo rico em património arqueológico», consubstanciado em duas zonas classificadas como Património Mundial, caso das gravuras rupestres e do Alto Douro Vinhateiro, o presidente reiterou à ministra da Cultura um desafio que já tinha endereçado ao primeiro-ministro: «Fazer aqui num futuro próximo uma reunião do Conselho de Ministros», desejou.
Sotero quer fozcoense à frente do PAVC
Numa altura em que se encontra a decorrer um concurso público para o cargo de director do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), o autarca de Foz Côa, Sotero Ribeiro, garante que ficará «muito desiludido» caso o nomeado para o lugar não seja natural do concelho. Dirigindo-se a Fernando Real, presidente do Instituto Português de Arqueologia (IPA), o edil confessou que ele próprio e os fozcoenses ficarão «muito desiludidos» se, eventualmente, um dos três nomes naturais do concelho, entre os seis concorrentes, «não vier a ocupar o lugar» de director do PAVC. Apesar de reconhecer que «concursos são concursos», Sotero Ribeiro sublinhou que «qualquer pessoa pode amar uma terra, mas alguns dos concorrentes já deram mostras de que não amam Foz Côa», afirmou, numa clara alusão a Maia Pinto, primeiro e actual director do PAVC, natural do Porto, que também integra a lista de candidatos ao lugar.
Projectos no Centro Cultural
Pedro Tiago Pimentel, o arquitecto coordenador do projecto vencedor, mostrou-se satisfeito com o triunfo: «Sentimo-nos particularmente entusiasmados e estávamos confiantes no sentido em que propusemos um projecto que traz mais-valias ao sítio», realçou. Recorde-se que a proposta apresentada pelos dois jovens profissionais do Porto, contemplados com um prémio de 25 mil euros, foi a de um monólito com janelas em frestas, semi-enterrado e com oito metros de altura na vertente virada para o vale do Douro. O relatório do júri considerou a proposta vencedora uma solução arquitectónica «extraordinária e carismática», criando uma peça de arquitectura de «cariz escultórico e emblemático, assumidamente contemporâneo» e capaz de acrescentar «mais-valias à paisagem». Com uma forma triangular, o museu será o resultado de três condições topográficas, em que o ponto mais alto do terreno está “entalado” entre os Vales do Forno e o de José Esteves, abrindo uma terceira frente que vai de encontro aos rios Douro e Côa. Realce para a fachada virada para o vale do Douro, feita de grandes superfícies envidraçadas. Outra solução inesperada reside no acesso ao museu, pois vai fazer-se pela cobertura do edifício que vai servir de espaço social.
Nos próximos dias, o Instituto Português de Arqueologia, que tutela a obra, vai assinar o contrato com a dupla de arquitectos vencedora para a elaboração do projecto de execução. O prazo para a sua entrega é de 11 meses, sendo, posteriormente aberto um concurso público para a construção da empreitada, o qual demora entre seis a nove meses. Deste modo, o início dos trabalhos, caso tudo corra bem, deverá ocorrer em princípios de 2006. Os trabalhos encontram-se expostos, de terça-feira a domingo, na Sala do Museu Municipal, no edifício do Centro Cultural de Vila Nova de Foz Côa, até dia 2 de Outubro deste ano. Posteriormente, a mostra estará patente no Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa, entre Novembro e Dezembro.
Ricardo Cordeiro