As obras do Museu de Arte Sacra da Guarda estão na sua recta final. Contudo, ainda não existe uma data prevista para a abertura da nova estrutura, localizada na capela do antigo seminário, junto ao Paço da Cultura, uma vez que ainda falta realizar todo o trabalho de recolha do espólio. Entretanto, João Belo Rodeia, presidente do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), que esteve na Guarda na semana passada para participar no seminário “Salvaguarda e conservação preventiva de património religioso classificado”, defendeu a «sinergia» de esforços com a Igreja Católica Portuguesa.
O cónego Eugénio da Cunha Sério, da Comissão de Arte Sacra da Diocese da Guarda, adianta que as obras do futuro museu «já estão numa fase final», mas quando tal acontece «é sempre um pouco difícil e falta terminar tudo», sublinha. No entanto, depois de concluídos os trabalhos, ainda faltará um «grande espaço de tempo» para proceder à recolha das peças «que devemos lá pôr», até porque há necessidade de «saber contactar com as respectivas entidades, uma vez que a Diocese tem poucas», indica. Neste sentido, é «necessário fazer protocolos» com as paróquias, para que estas possam ceder as peças de que dispõem: «Há anos que vamos insistindo com os párocos para que eles possam ter não só fotografias como também umas determinações da época das peças», refere o responsável. Um trabalho de selecção que tem que ser feito por um «especialista», uma vez que na Igreja «não temos muita gente formada», capaz de distinguir o «valor das obras»: «Há coisas que, à primeira vista, nos parecem de pouco valor porque parecem feias, mas que, às vezes, são obras de arte muito antigas e que merecem ser catalogadas e ser postas para exposição às pessoas», salienta. Em contrapartida, «há outras que, pela sua beleza, parecem muito boas mas que não são consideradas obras de grande relevância», completa.
Por tudo isso, avançar com uma data para a inauguração do Museu de Arte Sacra «ainda é muito prematuro», garante Eugénio da Cunha Sério. Também Francisco Vilar, presidente da Comissão de Arte Sacra da Diocese da Guarda, vê com agrado o evoluir das obras de uma «estrutura fundamental», mas sublinha que a escolha de peças «ainda vai criar muitíssimas dores de cabeça a todos». A preservação do património é tida como «muito importante», daí que um dos objectivos do seminário da última sexta-feira era o de «consciencializar não só o clero, mas também o povo, porque é necessário haver uma colaboração muito grande entre a parte civil e a religiosa na defesa de um património que é comum a todos», realça. Uma das apostas da Igreja passa pela «inventariação de todos os nossos bens através de fotografias e outros registos com certas características», ou seja, uma espécie de «bilhete de identidade» da peça. Trata-se de um «passo importantíssimo» para que, em caso de furto, seja mais fácil proceder à sua captura, assevera.
Diocese da Guarda pode aderir ao projecto “Igreja Segura”
Por sua vez, José Afonso, director da delegação de Castelo Branco do IPPAR, defendeu a criação de roteiros do património, destinados a recuperar e a valorizar os bens. Já João Belo Rodeia, salientou que dentro de uma «coisa muito vasta», como é a Arte Sacra, o IPPAR tem como «missão específica a protecção, salvaguarda e valorização do património arquitectónico português», disse, salientando que a Igreja Católica integra o Conselho Consultivo do instituto. De modo a assegurar a conservação do património, considerou, por outro lado, «importante» que o IPPAR e a Igreja Católica Portuguesa «se juntem para reflectirem em torno das respectivas missões e da possibilidade de sinergia entre ambos». Entretanto, foi apresentado o projecto “Igreja Segura”, que tem estado a ser implementado no Alentejo e tem a ver sobretudo com situações onde existem edifícios religiosos muito isolados. Este projecto pioneiro é também uma «maneira de tentar que as entidades ligadas à polícia possam colaborar com o IPPAR numa rede de protecção a esses edifícios», refere. Por enquanto, a Diocese da Guarda ainda não faz parte do projecto que pretende combater o furto e tráfico de Arte Sacra, mas poderá no futuro juntar-se às dez que já aderiram, adiantou Leonor Sá, conservadora do Museu e Arquivo Histórico da Policia Judiciária.
Ricardo Cordeiro