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Mulheres de armas na Guarda

Apesar de ainda serem uma minoria, há muitas mulheres que optam pela vida militar

Nos imaginários cenários bélicos são sempre os homens que estão na linha da frente. Mas o panorama começa a mudar de figura. A participação feminina na vida militar está a aumentar e a Guarda não é excepção. Num mundo de armas e maioritariamente masculino, elas sentem-se bem e dizem estar em pé de igualdade. Fardas, armas e disciplina já fazem parte do seu dia-a-dia. Actualmente, no comando distrital da Guarda há duas militares do sexo feminino, ambas a desempenhar funções distintas, mas com uma coisa em comum: o orgulho na farda que envergam.

Isabel Fernandes, 31 anos, é de uma localidade perto de Manteigas e sempre teve um certo fascínio pela vida militar, habituada desde pequena a ver as fardas do pai, ex-PSP, cedo decidiu que aquele era também o seu caminho e foi para a tropa. «Na altura, a minha mãe ficou um pouco aborrecida. Enquanto o meu pai incentivou-me», confessa a militar. Depois concorreu para Guarda Nacional Republicana (GNR) e frequentou o curso no Agrupamento de Instrução de Portalegre. No final foi colocada no Regimento de Infantaria em Lisboa. Por lá esteve dois anos a desempenhar todo o tipo de serviços, desde guarda à prisão de Caxias ou à Assembleia da República, entre outros. «Fiz e faço tudo o que um homem faz», sublinha. Depois foi colocada no posto da Mealhada, entretanto ficou grávida e após alguns problemas, foi transferida para a Guarda a título excepcional. Entretanto concorreu ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR (SEPNA). «E até há duas semanas estava a comandar a equipa em Pinhel», realça Isabel Fernandes, que dá o seu caso como exemplo para demonstrar que hoje o facto de ser mulher, numa carreira militar, já não é impedimento para se chegar aos lugares de chefia. Recorda ainda uma situação caricata que lhe aconteceu na Mealhada: «Uma vez ia a conduzir o carro da patrulha e uma senhora perguntou-me: agora os homens na GNR já usam brincos?», ri-se.

Hoje tem «bastante orgulho» na farda que enverga. Durante os sete anos de vida militar, «nunca senti qualquer tipo de discriminação por ser mulher», afiança. «Mas somos mais bem aceites pelos colegas mais velhos», intervém Amélia Gonçalves, também militar da GNR. Tinha 24 anos quando, por brincadeira e incentivada pelas colegas de trabalho, decidiu inscrever-se para o curso de Formação de Praças. «Depois passei todas as fases e comecei a entusiasmar-me», recorda a jovem. Quem não gostou da sua decisão foi a mãe: «Para ela, a vida militar era sinónimo de masculino», lembra a oficial, acrescentando que «se trata de um tabu que está a desaparecer». Naquela altura, a mãe ainda ficou uma semana sem lhe falar, mas «hoje está muito orgulhosa e faz questão de contar a toda a gente que pertenço à GNR», refere Amélia Gonçalves. Depois do curso em Portalegre, estagiou em Pinhel durante dois meses, esteve um ano em Mem Martins (Sintra), outro em Albergaria-a-Velha e neste momento está na Guarda, no Gabinete de Apoio à Vítima. Integra a GNR há cerca de quatro anos.

No ano em que concorreu entraram cerca de 70 mulheres contra 900 homens. Segundo o gabinete de imprensa da Guarda Nacional Republicana, no ano de 2002 existiam cerca de 25.116 militares do sexo masculino contra as 633 mulheres. As exigências que fazem às militares do sexo feminino são iguais aos dos homens, com algumas excepções, «a mulher tem que ter no mínimo 1,60 de altura e os homens 1,65. Além disso, quando eles faziam barras, nós fazíamos flexões», alega Amélia Gonçalves. «Toda a gente faz falta, nós até damos outro ar à instituição», graceja a militar. Mas não só. Em determinadas situações as mulheres têm outro tipo de sensibilidade, dando como exemplo, o gabinete de apoio à vítima ou naqueles casos em que é preciso revistar mulheres, entre outros. «Não é difícil hoje se chegar a um lugar de chefia, acho que estamos em igualdade de circunstância», acredita Amélia Gonçalves.

Patrícia Correia

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