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Mostra-me o teu Facebook, dir-te-ei quem és

Entre outros méritos insignificantes – mas que já se tornaram imprescindíveis -, o Facebook permite alcançar um nível notável de conhecimentos idiotas sobre a vida alheia. E a verdade é que nunca foi tão fácil para o cidadão comum estar por dentro dos detalhes da vida íntima das figuras públicas. Nas redes sociais, presidentes de Câmara, deputados e assessores despem a pele de personagens distantes, austeras e quase mitificadas para se transformarem em pais extremosos, vizinhos irritadiços, devoradores compulsivos de literatura light ou consumidores de música duvidosa. É no Facebook, por exemplo, que Abílio Curto assume publicamente que gosta da cozinha à portuguesa. O ex-autarca aderiu ao grupo “Em memória dos slows das festas de garagem”, diz que é fã de Sócrates, pede “um presidente poeta”, confessa-se farto de Pacheco Pereira e aderiu ao grupo “Aposto que encontro 250 mil que detestam o Alberto João Jardim!!!!” Já o actual presidente da Câmara, Joaquim Valente, é militante virtual do “Partido pelos animais” e conta que se interessa por “política, solidariedade e sport”.

Jorge Seguro, deputado na Assembleia da República eleito pelo distrito de Castelo Branco, é dos mais activos na internet. Apresenta-se como “um cristão licenciado em Direito”, tem mais de quatro mil amigos e gosta de coisas tão diversas e estranhas como Shakira, Alicia Keys, La Redoute, sardinha assada, caracóis ou imperiais. O também deputado António Almeida Henriques joga Farmville, apoia virtualmente Passos Coelho em pelo menos quatro grupos diferentes, mas rapidamente se percebe que em matéria de apoios vai a todas: também é fã de Marques Mendes, Santana Lopes, Ferreira Leite e Paulo Rangel.

Outros preferem levar o Facebook mais a sério. É o caso de Américo Rodrigues – que, revela, tem um mestrado em Ciências da Fala e da Audição. O director do TMG ou escreve sobre o Teatro ou sobre si próprio. As entrevistas que dá, as intervenções que profere, as opiniões que tem, os sítios por onde passa, os programas de televisão onde aparece.

No Fundão, o presidente da Câmara, Manuel Frexes, é uma espécie de homem duplicado. Tem dois perfis, onde assume gostar dos Morangos [com açúcar] Coimbra. O filho do assessor fez anos há dias. Para celebrar a data, Miguel Gavinhos fez uma mousse “tipo Jamie Olivier”. E partilhou a receita: “Piri-piri, avelãs e outros segredos que não posso revelar. Sim, e uns ingredientes que me esqueci de comprar”, mas que uma amiga lhe mandou “pelo elevador”. Espirituoso. Na Covilhã, Miguel Nascimento tem um perfil tão zen quanto melodramático. Cita Paulo Coelho, sofre pelo Sporting, distribui “saudações socialistas” e confessa que teve uma infância feliz. Carlos Pinto, por seu turno, teve Facebook durante a campanha eleitoral, mas desapareceu da rede social sem deixar rasto. Na Guarda, Rita Mendes aderiu, recentemente, ao grupo “Mulheres bonitas, inteligentes e charmosas são do FCP”. Definitivamente, no Facebook nem tudo o que vem à Rede é peixe.

Por: Rosa Ramos

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