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Morte lenta?

Segundo a Wikipédia, “Morte (do latim mors)… refere-se ao processo de cessamento das atividade biológicas necessárias à caraterização e manutenção da vida num sistema outrora caraterizado como vivo. Acrescenta ainda que «os processos que se seguem à morte (pos-mortem) são os que levam à decomposição dos sistemas». Estaremos, nestas circunstâncias, a referir-nos à morte biológica.

Porém, se em vez de nos centrarmos na biologia, nos direcionarmos para a economia, as coisas serão, porventura, um pouco diferentes.

Aí, na economia, também se morre, sempre e quando uma qualquer empresa cessa a sua atividade. Não será uma morte biológica, mas também aqui acontece um fim de ciclo de vida, neste caso económico, mas que afeta necessariamente pessoas. No entanto, na economia, ao contrário da biologia, o “pos-mortem”, ou seja, «a decomposição dos sistemas» acontece antes, ainda em vida, e é ela que determina a morte. E neste processo poderíamos identificar um vasto conjunto de fatores, fossem eles de natureza interna, da própria atividade/organização, ou de natureza externa, originados no meio social e económico onde ela se desenvolve e opera.

Vem tudo isto a propósito de uma realidade que não me é estranha. E porque a conheço e tenho a perceção exata do contexto económico e social que me rodeia, essa mesma realidade causa-me amargura.

Recentemente, ao entrar num espaço comercial da nossa cidade, um comércio com umas décadas de existência, encontrei uma pessoa derrotada que, ao conversarmos, me transmitiu o seu desencanto com a Guarda. Desilusão com o concelho onde investiu e projetou a sua vida, sendo que esse mesmo concelho está agora a ser ingrato com ele e incapaz de o retribuir.

Disse-me que «a Guarda não arranca, não atrai investimento, não cria emprego, tem cada vez menos pessoas e eu cheguei a um ponto em que não consigo já pensar no que hei de fazer, se fechar se continuar aberto, mas cheguei a uma situação em que já nem sou capaz de fazer reposição de stocks. Tenho ainda uma filha para formar e a casa para acabar de pagar».

Perante uma confissão destas, fiquei deveras incomodado e tive que esperar algum tempo para escolher as palavras para o poder incentivar.

Já uns dias antes, ao fim da tarde, encontrara um amigo, também comerciante e guardense, que me dissera, olhando para o relógio, «são 18 horas, tenho dois vencimentos para pagar e ainda não me entrou um único cliente na loja desde que abri esta manhã».

Ao lerem estes testemunhos muitos questionarão:

– O que é que eu tenho a ver com isso?!

E alguns responderão:

– Nada!

É o normal das coisas e vem ao encontro daquilo que a pessoa do primeiro testemunho também me expressou antes de eu sair: «Sabe, quando estamos na mó de cima temos muitos amigos, toda a gente nos considera, mas quando estamos em dificuldades, ninguém nos ajuda!» Por estranho que possa parecer, ou não, é comum que a indiferença grasse mais rapidamente na sociedade do que a solidariedade. Mas, em circunstâncias destas, perdemos todos, ou não fosse a economia um sistema de vasos comunicantes. Como é uso dizer-se, “ninguém julgue que está bem, quando o seu vizinho está mal”.

Ora, sabendo nós que um dos desígnios do ser humano é transformar situações menos favoráveis em situações mais favoráveis, ou seja, passar de uma situação de menor prosperidade para uma de maior prosperidade, e alertados para os problemas que surgem nesta caminhada, torna-se imperativo que a esses mesmos problemas se aloquem os recursos necessários e suficientes para os solucionar.

E quais são os problemas de primeira ordem das pessoas?

Parece-me, na minha humilde opinião, que no topo das prioridades estão as questões de SUSTENTO do indivíduo e da família e que esse é um aspeto que está diretamente relacionado com o funcionamento da economia.

Há EMPREGO ou NÃO HÁ EMPREGO numa determinada região?

As pessoas têm acesso a um TRABALHO e a uma REMUNERAÇÃO DIGNA que lhes garante a sobrevivência ou não têm?

É isto que, em primeira medida, determina o sentido do movimento das pessoas. As pessoas vão, em primeira ordem, à procura do SUSTENTO. Também aqui é o normal das coisas. Fazem-no porque a razão e a necessidade assim o determinam.

É por essa razão, haver ou não haver condições de SUSTENTO, que faz com que uma região seja um espaço geográfico de ATRAÇÃO de pessoas e cresça populacionalmente, ou que seja uma zona de EXCLUSÃO dessas mesmas pessoas e se vá esvaziando delas próprias. Sabemos também que uma região só pode ser rica se tiver pessoas.

E é aqui que entra a política e o papel de relevo que ela pode desempenhar na nossa sociedade, na medida em que for capaz de resolver os problemas dessas mesmas pessoas.

E que tipo de problemas é necessário PRIORITARIAMENTE resolver?

A resposta parece-me óbvia. Devem ser os problemas de primeira ordem e o primeiro de todos é, sem sombra de dúvidas, o do SUSTENTO das pessoas.

Quando o sustento estiver garantido e quando as necessidades subsequentes dos cidadãos, na dimensão educativa, cultural, passando pelo acesso aos cuidados de saúde, etc., etc., estiverem consolidadas, nessa altura e só nesse momento, se pode canalizar a ação política noutra direção.

Há um tempo para tudo e, como diria Camilo Castelo Branco, «o tempo chega sempre; mas há casos em que não chega a tempo».

Para terminar, diria que o título sintetiza o meu ponto de vista sobre o processo de “decomposição” em que se encontra a realidade económica que nos está mais próxima e com o concelho da Guarda a perder, em média, QUINHENTAS (500) pessoas por ano, há razões de sobra para dizermos: OXALÁ O TEMPO AINDA VENHA A TEMPO!

Por: Henrique Monteiro

* Presidente da Distrital e concelhia do CDS-PP da Guarda

Comentários dos nossos leitores
Tete Tete@tete.com
Comentário:
Palavras ocas e lágrimas de crocodilo, o seu partido esteve e está no poder camarário da Guarda vai fazer 4 anos, nada fez, nada falou, limitou-se a organizar excursões e a aparecer nos “eventos” e agora espera o senhor o quê da cidade e da economia? Nada fizeram, essa é a verdade.
 

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