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«A SIC mudou o país e fez o país mudar»

Cara a Cara – Pedro Cruz

P – A SIC nasceu há 25 anos, o que mudou no universo televisivo em Portugal?

R – A SIC foi – é hoje unanimemente reconhecido – uma pedrada no charco. A televisão em Portugal ainda parecia do tempo do “preto e branco”. Muito institucional, muito cinzenta. Se repararem, não havia “povo” na televisão. Só engravatados. Até o entretenimento era do passado. A SIC trouxe, na informação, novas formas de abordagem da notícia, na forma de escrever para televisão, na forma de filmar e editar. Novas formas de contar histórias. Trouxe o país para dentro da televisão, mostrou realidades que não eram elevadas à categoria de notícia. Descobriu um país atrasado e muitas vezes esquecido. A SIC mudou o país e fez o país mudar.

P – O que mudou em Portugal com o aparecimento dos dois novos cais de televisão, e em concreto com o aparecimento da SIC?

R – A perceção que os portugueses tinham do seu país. Ao trazer o país para a televisão, a SIC ampliou a realidade, obrigou políticos a agir, questionou os poderes, democratizou a notícia. E abriu possibilidades de escolha, ou seja, acabado o monopólio da TV pública, os portugueses puderam, nesta área, finalmente, fazer escolhas. E é bom poder escolher.

P – Entretanto, pelo caminho houve muitas mudanças, e nasceram também novos canais dentro da própria SIC, nomeadamente a SIC Notícias, o que representou para a SIC o “fazer Nascer” estes novos canais? E o que implicou e significou para o país o nascimento do primeiro canal informativo em Portugal?

R – Mais uma vez a SIC foi pioneira. Ninguém acreditava em 92 que a SIC sobrevivesse mais de seis meses ou um ano. Em 2001, ninguém confiava que a SIC Notícias conseguisse alimentar um canal de notícias “24 horas por dia, em direto e em português”. Provámos que era possível. Continuamos a provar que é possível, todos os dias. A SIC Notícias é o canal de informação líder desde que nasceu. Isso orgulha-nos mas dá-nos, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade. Com a SIC Notícias, os poderes passaram a estar ainda mais sob escrutínio. A toda a hora. A hora das notícias deixou de ser só ao almoço e ao jantar e passou a ser sempre, a qualquer momento. O direto, a grelha da SIC Noticias, obrigaram o país institucional e politico a adaptar-se. Além disso, abriu-se mais espaço para a análise, o debate e o comentário. Damos, hoje, aos nossos telespetadores mais armas para tomarem decisões ou formarem opiniões.

P Houve um tempo, nos primeiros anos, em que a SIC cresceu de forma impressionante e surpreendente chegando mesmo aos 50% de share, hoje, com cerca de 20%, como vê o futuro das generalistas e em concreto que caminhos pode percorrer a SIC para não perder terreno e recuperar audiências?

R – A SIC foi um “case-study” em toda a Europa. Portugal estava ávido de novidade e de diferença no início dos anos 90. Daí para cá o mundo mudou. Mudou muito. O cabo transformou o consumo, pulverizou audiências, fragmentou públicos. A televisão generalista está numa fase de mudança. Ainda não sabemos muito bem para quê, porque estamos a viver a história. A fazê-la. Mas a televisão generalista continua a ser a mais vista, a que chega a mais pessoas, ao mesmo tempo. Estamos num período de transformação. E nunca mais, nem a SIC nem nenhum outro canal, vai ter 40 ou 50% de share. Isso não se repetirá. E, claro, a concorrência cresceu e aprendeu como se faz. Vamos ver. A TV generalista há de ser algo completamente diferente em pouco tempo.

P – A SIC, generalista, e a SIC Notícias ao longo destes 25 anos procuraram sempre liderar a informação, ainda é assim? Os “especiais” e as “reportagens” no final do telejornal é uma aposta para continuar e até que ponto serão a “arma” para fidelizar audiência e recuperar a tal imagem de canal líder na informação?

R – A informação faz parte do ADN da SIC e da SIC Notícias; O nosso presidente, o Dr. Francisco Pinto Balsemão, é jornalista antes de ser político ou empresário. Já referi que a SIC Notícias é líder desde o primeiro dia nos canais de notícias – repito, nos canais de notícias – e a informação da SIC lidera como sempre liderou nas classes com poder de influência e decisão. A “Grande Reportagem SIC” é a mais premiada do país. A nossa média reportagem, as rubricas que todos os dias entram no Jornal da Noite, são para manter. Vamos continuar a dar destaque a várias matérias, do consumo à ciência, do “lifestlyle” à investigação de casos que abalam o país. Temos dos melhores repórteres portugueses. É a nossa marca.

P – Por vezes dá a sensação que mais rapidamente se dá relevância televisiva a um acontecimento em Nova Iorque ou Brasília, do que na Guarda ou Covilhã, será assim?

R – Percebo o que querem dizer. Eu trabalhei no Porto até há um ano e meio e sentia a mesma coisa. O país é diferente visto da Guarda, do Porto ou de Faro. Depende sempre da perspetiva em que nos colocamos. A nossa decisão editorial tem de ser sempre em função de quem nos vê, e tentar chegar ao maior denominador comum. Nem sempre esse exercício é fácil. Mas todos os dias tentamos fazer melhor. Mas na SIC o interior não está esquecido. Pelo contrário. Temos correspondentes em todos os distritos do interior, de Bragança a Évora, que todos os dias trazem o país para dentro da televisão. Tal como em 92. Não estão lá para enfeitar. A redação da SIC estende-se pelo país todo.

P- A SIC percorre o país pelos seus 25 anos, a ideia é mostrar o espólio e a história dos 25 anos do canal ou é também beber o país, o país real, o país que muitas vezes não tem lugar nos telejornais ou nos programas de animação?

R – A ideia é estar perto de quem nos vê. Retribuir aos espetadores a fidelidade. Nós não trabalhamos para nós, trabalhamos para quem nos vê. E são tantos. O país real está todos os dias nas notícias. Não precisamos de ir à Guarda para isso. O que vamos mostrar é um novo olhar sobre o concelho e o distrito. Coisas que se estão a fazer e ninguém sabe. Novas formas de olhar para cada distrito. Já sabemos que a Guarda é Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa. E o que mais é? Vamos ver no Primeiro Jornal. É já dia 23.

Perfil:

Jornalista, subdiretor de Informação da SIC

Naturalidade: Vila do Conde

Profissão: jornalista

Idade: 46 anos

Currículo: Cobriu todas as eleições e noites eleitorais desde 1995, acompanhou dezenas de cimeiras e visitas de Estado em mais de 50 países, foi enviado especial à guerra civil da Albânia em 1887, guerra do Kosovo em 1998, guerra do Líbano em 2006 e terramoto do Haiti em 2010. Foi coordenador da SIC Porto entre 2001 e 2014 e é subdiretor de Informação da SIC desde março de 2016

Livro preferido: “Os Maias”

Filme preferido: “Clube dos Poetas Mortos”

Hobbies: Ler e viajar

Pedro Cruz

Sobre o autor

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