Lurdes e Daniel Moreira adquiriram uma moradia na Mêda há cinco anos. Os dias e os meses foram passando e o passeio – mesmo junto à sua casa – continuou por fazer. As chuvas fortes criaram buracos, a erva foi crescendo. Emigrados em França, ao regressarem no verão, viam como as promessas da Câmara não se cumpriam e a requalificação da Avenida da Cidade de Cantanhede continuava por fazer. Este ano, cansaram-se de esperar pela decisão do executivo municipal e empenharam dois mil euros, do seu próprio bolso, no arranjo do passeio.
«O nosso maior problema era a segurança», explica Lurdes Moreira, acrescentando que «durante o verão há muitas pessoas que fazem caminhadas ao início da noite e, para se desviarem dos carros, acabam por tropeçar nos buracos escondidos pela erva». À questão da mobilidade, junta-se o facto dos proprietários nem sequer conseguirem entrar na garagem sem danificar o próprio carro, além de se ter tornado «cada vez mais difícil abrir o portão principal». Apesar de não viverem todos os dias do ano nesta moradia, a situação começou a incomodá-los sobretudo quando perceberam que, na mesma rua, foram feitos outros passeios. «No início da Avenida as obras avançaram, mas pararam na nossa casa e outras duas moradias a seguir têm o mesmo problema», acrescenta a proprietária. Além disso, Lurdes e Daniel Moreira queixam-se que a Câmara da Mêda dá prioridade a outros locais da cidade onde «nem sequer existem casas» e negligencia as zonas residências, onde os passeios acabam também por assumir maior importância. «Há passeios junto a zonas agrícolas e aqui não fazem porquê?», questiona o morador.
Ao longo dos últimos anos, viram passeios a “nascer” em diferentes lugares da cidade e o seu continuava a não existir. A revolta levou-os, por isso, a fazer várias vezes o caminho até à Câmara Municipal. Às conversas com o antigo presidente João Mourato – que não surtiram efeito, seguiram-se as solicitações dirigidas ao seu sucessor, Armando Carneiro. «Na terça-feira [da semana passada] falei pela última vez e perguntei se já sabiam quando iam fazer o passeio e o senhor presidente disse-me que não tinham dinheiro e que neste momento não podiam fazê-lo», adianta Daniel Moreira. Embora a resposta tenha sido negativa, o passeio acabou por ficar concluído na última sexta-feira. Os moradores pagaram dois mil euros para a sua reconstrução. «Pedimos autorização à autarquia para sermos nós a construir. Estava perigosíssimo e não podíamos continuar assim, com o espaço a degradar-se», lamenta o emigrante, esclarecendo que «cerca de 600 euros foram gastos em betão e outros materiais e o resto foi para os homens que aqui trabalharam».
«Requalificação deve avançar este ano»
O atual presidente da Câmara da Mêda confirmou a O INTERIOR que deu autorização aos proprietários para avançarem com a obra por conta própria.
No entanto, Armando Carneiro desmente ter dito que não é possível realizar a empreitada neste momento por falta de dinheiro. «Não foi isso que dissemos. Nós só estamos aqui há ano e meio e a requalificação daquela zona já vinha do tempo do anterior executivo. Quando dissemos que o passeio não iria ser feito para já, o proprietário pediu se podia ser ele a fazê-lo. Foi isto que se passou», esclarece. Já o anterior presidente diz não se lembrar do caso, nem da conversa que teve com os proprietários. «Essa avenida ia ser intervencionada no âmbito da requalificação do Vale do Pombo e os passeios iam ser melhorados», lembra João Mourato, reconhecendo que em todos os mandatos «há coisas que se fazem e outras que ficam por fazer».
«Se o atual executivo ainda não avançou, são opções. As autarquias neste momento também estão com menos dinheiro», acrescenta. Mas Armando Carneiro adianta que aquela zona está «a ser requalificada e outras casas estão na mesma situação, só que estes senhores tinham urgência em ter o passeio pronto». De resto, o edil espera que as restantes obras nesta avenida avancem «ainda este ano». «Quando os passeios foram construídos, o que estes proprietários agora fizeram será novamente intervencionado para ficar igual aos restantes», acrescenta ainda.
Catarina Pinto